O universo juvenil é tão vasto que além das tradicionais comédias, já rendeu outras diversas adaptações para seus moldes, como Ligações Perigosas que ganhou contornos estudantis ou Morro dos Ventos Uivantes que foi retratado em um romance adolescente e ainda em variadas produções que são travestidas vez ou outra em dramas interessantes ou usadas com pano de fundo para filmes de terror. Não seria estranho que em algum momento ele ganhasse uma roupagem noir, como nesse A Ponta de um Crime de 2005, protagonizado por um bem jovem Joseph Gordon-Levitt.
Na trama acompanhamos a jornada auto-destrutiva de Brendan (Joseph Gordon-Levitt), um ex-traficante do colegial resignado que banca de detetive para descobrir que fim levou sua viciada namorada, sumida a alguns dias do convívio estudantil. O diretor Rian Johnson, que depois desse dirigiu o ótimo Os Vigaristas de 2008, cria um confuso quebra cabeça que funciona em favor da trama, descortinando as verdadeiras facetas dos personagens estereotipados da historia, seja na princesinha manipuladora viciada em cocaína ou no nerd maldoso que incrimina colegas ou o deficiente físico que parece ser o verdadeiro chefão de todo aquele mundo pervertido apresentado.
Para um apreciador de David Lynch, acaba sendo inevitável a comparação (guardada as devidas proporções) de A Ponta de um Crime com obras suas, principalmente Veludo Azul, até porque o filme carrega algumas simbologias, principalmente à de um desenho que rola de mão em mão em um guardanapo e há certo clima estranho, revestido com uma trilha sonora jazzística e algumas cenas filmadas nas sombras, principalmente as realizadas dentro da casa do traficante/chefão deficiente físico The Pin (Lukas Haas). É notável como Rian Johnson aborda de maneira crua e cruel a biosfera jovem, fazendo os pais dos personagens serem visto como meros servos dos filhos, o que muitas vezes acaba sendo uma verdade, não sendo coniventes, mas fazendo uma eterna vista grossa para a toda a situação.
Nessa obra Joseph Gordon-Levitt começa a demonstrar seu verdadeiro talento, fugindo de papeis de comedia que eram recorrentes em sua curta carreira. O seu Brendan carrega a tristeza e determinação na dose certa para tornar sua busca crível, e o processo degenerativo do personagem é mostrado de maneira impressionante pelo ator, que não se furtou em parecer literalmente um "lixo" em cena, provavelmente o que capacitou ele para protagonizar outros personagens atípicos para um aspirante a galã, como nos filmes O Vigia, Matadores de Aluguel, Stop-Loss e no mais recente Hesher. Certamente o rapaz vive do talento e não do rostinho bonito.
5 comentários:
Se possui, mesmo que seja uma única pitada de Veludo Azul, preciso conhecer e dar uma olhada no filme.
Bela sugestão.
Valeu a dica, Celo...
O Falcão Maltês
Renato, é um filme q remete ao clima de Veludo Azul, mas a historia pouco se parece;
Antonio, de nada.. quem sabe não gosta?!
Abs !
Desde já, um de seus melhores textos aqui! Esse filme me parece muito interessante, gostei da premissa e só pela presença do Joseph já me deixa mais curioso!
Você está igual ao Alan Raspante, todo dia muda de visual, por que isso? preferia o visual anterior, abraço!
O visual deste aqui pelo menos não está tão invasivo quanto o imediatamente anterior. Me agradou.
Postar um comentário