Uma das lendas que reza sobre Disque Butterfield 8 é que só teria rendido o primeiro Oscar a Elizabeth Taylor devido a reverência que o público fez a atuação da atriz, criando um verdadeiro culto sobre a personagem Gloria Wandrous e que Taylor não seria a favorita para o prêmio, que já era dado como certo para Shirley MacLaine por Se Meu Apartamento Falasse de Billy Wilder. Não deixa de ser uma história interessante, até por Elizabeth Taylor ter protagonizado filmes anteriores tão bons como esse, citando apenas Gata em Teto de Zinco Quente ou o épico Assim Caminha a Humanidade, mas parece que nenhuma dessas duas obras conseguiu arrebatar tanto o público americano quanto esse que narra a historia da prostituta de luxo que se apaixona por um de seus clientes, assim tornando inevitável a premiação da atriz.
Histórias de premiações a parte, Disque Butterfield 8 é um filme notadamente diferenciado, seja pela magnífica atuação de Taylor ou pelo clima de beleza melancólica que vai fluindo lentamente, mas acaba impregnando a obra do competente diretor Daniel Mann. Apesar de tratar de um texto polêmico para a época, Mann consegue realizar com elegância, humanizando Gloria, que é tratada como uma modelo de roupas a serviço da tal agencia Butterfield 8. Fica escancarado para o público que Gloria é uma prostituta, mas o diretor deixa a revelação implícita, guardando para a mesma revelar para sua própria mãe em uma cena emocional e ao mesmo tempo delicada, com destaque também para a atriz Mildred Dunnock, que representa perfeitamente a mãe que finge não querer ver a verdadeira vida da filha.
Tendo um revestimento dramático pessoal a Gloria Wandrous, que ainda se apóia na amizade de um musico falido representado pelo excelente Eddie Fisher, entra em cena o tema principal do filme: o amor impossível. Seria Gloria capaz de amar alguém sem restrições? Ou ainda sem receber gratificações materiais? Aquele amor romântico guardado apenas as princesas nos contos de fada? Gloria queria viver seu conto de fadas, mas sofria retaliações por ela mesmo, achando que a vida não poderia render felicidade a uma desajustada, que toma gim no café da manhã ou rouba casacos de mil dólares para usar em sua vingança mesquinha. Seu contraponto é o industrial Weston Ligget (Laurence Harvey), que parece carregar tantas reminiscências quanto ela, um desordenado social, vivendo a margem da milionária esposa e que encontra em Gloria sua verdadeira contraparte.
Com cenas memoráveis, como uma em que Gloria revela de maneira explosiva o que aconteceu consigo quando tinha apenas 13 anos, criando um dos pontos mais altos do filme ou no epílogo incrivelmente ágil e cruel, Disque Butterfield 8 nem precisava de uma premiação da academia para ficar marcado na historia como uma das grandes atuações dessa lendária atriz, que quando em cena, sempre elevava o cinema, fazendo a ele jus à alcunha de sétima arte.
11 comentários:
A sinopse lembra muito o outro clássico, "Bonequinha de luxo" com a inesquecível Audrey Hepburn, será que é tão bom quanto?
Elson, a comparação é inevitavel, mas esse aqui é mais sordido, diferente do tom mais leve da adaptação de BONEQUINHA DE LUXO. Vale muito uma olhada!
Pra mim, esse filme só vale por causa da performance da Elizabeth Taylor. Acho uma obra bem razoável....
eu tenho esse filme. acho um filme agradável, mas o filme possui uma "pegada" que remete para novela, sabe? é tudo muito melodramático e exagerado. não é o meu favorito da taylor. ah, não acho essa oscar dela por este filme muito válido, sua atuação não é lá grande coisa...
Putz, agora fiquei doido para assistir este filme. Até pela semelhança mencionada com "Bonequinha de Luxo", que assisti à pouco e me arrebatou. Vou ser obrigado a alugar este filme com urgência. Tá vendo o que você faz, Celo. hehehe. Um abraço
Kamila, o filme me arrebatou, claro q não é uma maravilha narrativa, mas o clima de culpa, exaltado pela atuação de Taylor faz desse um grande filme;
Alan, nem sempre as premiações do Oscar fazem jus aos concorrentes, mas dos q estavam em pauta, talvez o atuação de Taylor seja a nelhor, se as novelas brasileiras fossem assim, veria tds! hehehe;
Beto, assista sim, acho q vai gostar, mas ve se escreve um texto desse para eu poder ler!
Abs a Tds!
Engraçado, eu não gosto nem desse filme nem de BONEQUINHA DE LUXO. Quer dizer, até gosto dos dois, mas não muito. Mas há que dar o braço a torcer que a Liz Taylor está ótima. Esse foi o filme que eu vi em homenagem a ela, quando de sua morte. Belo texto, Celo.
Ailton, q coisa, é questão de gosto, BONEQUINHA DE LUXO foi um dos filmes q impulsionou minha cinefilia, BUTTERFIELD 8 só descobri agora, mas tb achei muito bom. Liz está maravilhosa!
Na verdade, Liz só ganhou esse Oscar devido aos eventos que quase a levaram à morte nas filmagens de Cleópatra. Ela própria não gostava dele. Mas não acho o filme ruim. É bom, só não é excepcional.
Todo mundo fala mal deste, poucos gostam, essa é a verdade. Eu adoro, acho o drama e sensualidade no ponto e temos uma Liz excepcional - MAS, o seu segundo Oscar foi muito mais justo, isso é fato, aproveite e veja o supremo 'Quem tem medo de Virginia Wolf?'.
Seu texto está muito bom, um dos mais inspirados teu aqui, sério. abs
Fabio, achei muito bom, a atuação de Liz Taylor está sublime, gostei muito;
Cris, é um grande filme mesmo, suas palavras resumem bem o sentimento. Tenho q rever Virginia Wolf mesmo, outra grande atuação de Liz Taylor!
Abs a tds!
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