Existe um fato engraçado na apreciação de Gotas D’Água em Pedras Escaldantes , nos créditos iniciais logo vem à informação de que a obra era baseada em texto de Rainer Werner Fassbinder, diretor que sempre me cobro e prometo de assistir a mini-serie Berlin Alexanderplatz, e que também não assisti nada, mesmo sempre sendo cobrado pelos amigos cinéfilos. De uma maneira ou de outra, um pouco de Fassbinder acabou vindo parar em minhas mãos, meio que sem querer, com a indicação dessa realização do diretor francês François Ozon pelo amigo Ailton Monteiro no post recente do filme O Refúgio.
Pelo que andei lendo, Gotas D’Água em Pedras Escaldantes guarda um pouco do sarcasmo que Fassbinder aplicou em obras como Berlin Alexanderplatz, mas sem duvida a concepção estética e da trama tem muito de Ozon, com cenas que remetem a outras realizações suas. Como o próprio titulo sugere, na trama, as Gotas D’Água seriam o jovem Franz (Malik Zidi), a sua ex-namorada Anna (a estonteante Ludivine Sagnier) e a transsexual Vera (Anna Levine), e as Pedras Escaldante seriam o dominador Leopold (o excelente Bernard Giraudeau). Na presença escaldante de Leopold, as gotas se dissipam e viram mera precipitação, podendo ainda se tornar nuvens de chuva.
A obra carrega forte tom teatral, tanto que tudo acontece dentro do apartamento de Leopold, desde o encontro inicial com o indeciso Franz, que de noivo prestes a se casar, passa a amante passivo do homem. Leopold se interessa tanto pelo sexo quanto pelas maneiras que tem de diminuir ou desprezar o rapaz. A divisão por atos, aparece pontuando também as fases de um relacionamento, seja homossexual ou hetero, sempre há o deslumbre inicial, que depois pode se converter em desinteresse, talvez devido ao marasmo ou detalhes do caráter da pessoa que possam começar a irritar ou mesmo pela vontade de se procurar “carne nova”, como em certo momento a transsexual Vera, ex-amante de Leopold, cita.
Lá pelo terceiro ato, entra em cena a sonhadora Anna, ex-noiva de Franz, que pretende resgatar o rapaz para si, ainda acreditando que o jovem tenha vivido apenas uma aventura e não ame Leopold, mas tudo acaba ganhando uma dimensão pervertida quando o homem flagra os jovens em sua casa após fazerem sexo. Iniciando assim um jogo sexual com o casal e com Vera que acaba aparecendo no mesmo momento, clamando por sua ajuda. Ali, percebe-se o verdadeiro prazer de Leopold: manipular as pessoas com seus joguetes em que todos acabam ficando a sua mercê. Gotas D’Água em Pedras Escaldantes é um filme inevitavelmente dramático, mas que guarda um humor bem peculiar às obras de Ozon, que parece fazer filmes que sempre tem o que dizer, mesmo os cômicos.
6 comentários:
Tive o prazer de ver este filme no cinema, mas já faz tanto tempo. Fico feliz que você tenha visto. Preciso revê-lo.
Ludivine está de encher os olhos também em SWIMMING POOL, onde aparece de top less praticamente o filme inteiro. hehehe. Mas esse você já deve ter visto.
SWIMMING POOL assisti tem uns anos, mas fiquei ate com vontade de rever!
Me parece um filme interessante. Não conhecia.Pelo menos não me recordo dele. Certamente aguçou minha curiosidade!
Abs
Reinaldo, é um bom filme mesmo, vale uma olhada. Abs!
Engraçado, eu li o Celso Sabadin invertendo essa associação dos elementos do título aos dois personagens masculinos. Creio que, no geral da história, o gênero sexual importa menos. As relações pessoais é que ligam esses personagem. O passado do homem cinquentão e sua busca pela juventude alheia são muito relevantes.
Fassbinder é bem adepto da estética kistch, não? Essas cores vivas e formas que saltam aos olhos são dele.
O filme se inspira no teatro, mas poderia mostrar menos dependência dele. Na cena em que o quarteto dança, o diretor poderia variar nos planos. Mas, não. Fica parecendo que estamos na plateia de uma peça.
Pra finalizar: Ludivine Sagnier tem belos seios. Os melhores de uma atriz francesa. Melhores que o de Eva Green em Os Sonhadores.
Abraço
Deixa eu fazer duas retificações: o termo certo é "kitsch" e na cena que me referi até tem uns closes.
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