Das adaptações cinematográficas de Nelson Rodrigues havia assistido Boca de Ouro de 1963, dirigida por Nelson Pereira dos Santos e Um Beijo no Asfalto de 1981, dirigida por Bruno Barreto. Todas duas excelentes obras, conduzidas por diretores competentes e que retratam muito bem o universo rodriguiano, mas Toda Nudez Será Castigada se destaca muito desses, assinada pelo controverso Arnaldo Jabor. Um diretor que teve seus alto e baixos, mais conhecido atualmente por suas crônicas no Jornal da Globo, mas que cravou seu nome na historia com um filme belo e mordaz, que remete ao cinema dos mestres italianos.
Herculano (Paulo Porto) é um sujeito católico, apegado à família, que recentemente perdeu a mulher para o câncer, vive uma vida de luto e clausura, acompanhado de suas tias beatas e do irmão fanfarrão Patrício (Paulo César Peréio, soberbo em cena). Preocupado com um iminente suicídio de Herculano e assim ficar sem se dispor do dinheiro que o irmão financia suas farras, Patrício resolve trazer Herculano de volta a vida. Como? Parafraseando Patrício: “A salvação de Herculano é o sexo!”, criando uma das inúmeras seqüências marcantes do filme.
Então, Patrício apresenta Geni (Darlene Glória) ao irmão, uma prostituta de um inferninho qualquer do centro do RJ, que absurdamente se apaixona por Herculano e vice-versa, mas não de uma forma totalmente vulgar, revestida de romance e subvertendo dogmas, e trazendo indagações como: “Uma prostituta não pode se casar?” Claro que o filme envolve mais situações do que o romance entre Herculano e Geni, ainda temos a figura de Serginho (Paulo Sacks), filho de Herculano que não aceita que o pai se envolva com outra mulher, principalmente uma prostituta, mas em determinado momento a situação muda, principalmente quando Serginho é preso e estuprado na cadeia, em um cena impressionantemente maledicente, em que os presos entoam à canção Bandeira Branca, enquanto o sarcástico Ladrão boliviano (Orazir Pereira) faz o serviço.
Toda Nudez Será Castigada é um filme inevitavelmente dramático, mas com momentos em que o riso flui naturalmente, principalmente nas seqüências em que Herculano e Geni se envolvem amorosamente ou nas que a prostituta joga seus belos seios na cara do expectador. Destaque para uma maravilhosa cena em que Patrício ensina à prostituta como ficar com o irmão, bravejando: “Esnoba! Esnoba!” Com atuações únicas e marcantes de todo o elenco, que ainda se dispõe de coadjuvantes como Henriqueta Brieba e Hugo Carvana, Arnaldo Jabor dirigiu e roteirizou um Nelson Rodrigues, emulando Fellini, mas com uma característica toda própria do nosso cinema, principalmente o considerado marginal. Resultado: uma verdadeira obra-prima!
11 comentários:
Não vi esse, mas detesto Arnaldo Jabor. Pedante é pouco...
Celo,eu assisti esse filme uns anos atrás.Fiquei meia tensa durante o filme.Quando assisti,era apenas uma adolescente conservadora.Quando adulta,pude analisar de uma forma diferente a película e curtir melhor o trabalho do Nelson Rodrigues.Esses filmes dos anos 80,os nacionais conhecidos como pornochanchada,são divertidos demais.Eu dava boas risadas com aquele Bonitinha,mas ordinária.Ótima análise,Celo!!Finalmente um que assisti!! Baita abraço!! =D
Fabio, com certeza Arnaldo Jabor é um sujeito dificil de tragar, mas nesse filme ele mostra uma verve bem talentosa;
Kuki, obrigado pela visita menina! Com certeza as pornochanchadas nacionais são deliciosas. Adoro!
Abs a tds!
Acabei de ler teu comentário, irmão. Vamos nos manter em contato. Teu blogger é muito bom. Estarei postando amanhã "Megamente". Estou terminado a resenha dele. Espero que gostes. Um abraço
Vou divulgá-lo entre meus amigos professores...
Maxwell, valeu pela força! Tb vou divulgar teu blog, amanhã aparecerei para comentar com certeza, Abração!
Grande Nelson Rodrigues. O sujeito tem uma obra tão boa que até um cineasta menor consegue fazer uma obra no mínimo bem legal. Não que seja o caso de Jabor, que na época, estava no seu auge e fez uma dúzia de filmes bem legais. TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA creio que é sua obra-prima.
Ailton, com certeza, esse filme de Jabor é uma obra-prima mesmo! Maravilhoso do inicio ao fim, com um dos epilogos mais marcantes do cinema brasileiro.
O final é de deixar o espectador com um sorriso no rosto. hehehe
Grande Celo, este filme é demais mesmo. Aconselho outro do Jabor que é fantástico: "Tudo Bem", este também é nota dez.
Ailton, podes crer...hehehe...Nelson Rodrigues não era facil;
Beto, dica anotada, quem sabe não confiro qq dia desses!
Abs!
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