Um sujeito negro em meio a uma cidade racista na América dos anos 60 já seria um motivo interessante para se contar uma historia. Se esse su...

264 - No Calor da Noite (In The Heat of The Night/Norman Jewison/1967)

Um sujeito negro em meio a uma cidade racista na América dos anos 60 já seria um motivo interessante para se contar uma historia. Se esse sujeito for representado por um ator como Sidney Poitier ganha outras proporções, pois Poitier tem muito talento e nesse premiado No Calor da Noite, dirigido por Norman Jewison, ele destila todo seu repertorio, compondo um personagem forte, transgressor e icônico.

O desenrolar da trama começa com o assassinato de um empresário influente na pequena cidade de Esparta, no sul dos EUA. Logo, o negro Virgil Tibbs (Sidney Poitier), de passagem pela cidadezinha, é levado como suspeito para interrogatório. Em algum tempo percebe-se que ele não é culpado e ainda se revela como um policial experiente e  investigador de homicídios da cidade grande, deixando todos perplexos em Esparta. Como um negro poderia calcar um posto tão importante dentro da sociedade americana? Já que por muito tempo eles serviam apenas para trabalhar em plantações e servir a senhores, sendo na sua maioria analfabetos e de pouco cultura, isso na visão sulista racista é claro.

Então, uma das nuances de No Calor da Noite é o conflito entre a pequena cidade e o policial negro que se vê obrigado a solucionar o caso do assassinato, mesmo que para isso ele tenha que arriscar a própria vida, que parece ter muito pouco valor em Esparta. Em meio à avalanche de revelações e durante a dificultada investigação, Virgil desenvolve uma improvável parceria com o delegado durão representado por Rod Steiger, que ainda ganhou o Oscar por essa atuação visceral. O antagonismo entre os dois personagens é um dos pontos forte do filme, mas também é muito bonito ver florescer o respeito e amizade das duas partes, que de uma maneira ou de outra acabam mostrando facetas do ódio racial.

No total, No Calor da Noite foi premiado com cinco estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme, mas dentre elas, nenhuma foi para Sidney Poitier. Sinceramente, uma grande injustiça, contradizendo a própria academia, que parecia ousada em premiar um filme que concorria com outros mais “acadêmicos” como A Primeira Noite de um Homem e Bonnie Clyde. Engraçado que o outro concorrente Adivinhe Quem vem para Jantar? também tinha como um dos protagonistas Poitier, que ainda havia ganho o prêmio quatro anos antes por Uma Voz nas Sombras do diretor Ralph Nelson (seria Poitier o melhor ator de sua época?).

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Andei lendo em alguns lugares, inclusive no excelente Cine do Beto (que também defendeu o filme), que o argentino Medianeras vem sendo acu...

263 - Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Digital (Medianeras/Gustavo Taretto/2011)

Andei lendo em alguns lugares, inclusive no excelente Cine do Beto (que também defendeu o filme), que o argentino Medianeras vem sendo acusado de ser um filme publicitário. Bom, mesmo que a intenção do diretor Gustavo Taretto seja divulgar a cidade de Buenos Aires, é um trabalho que deve ser louvado, pois o faz muito bem, de maneira interessante e mesmo assim, acho que mostrar as mazelas de uma cidade, não seja uma publicidade muito positiva.

O ponto de partida de Medianeras é mostrar a metrópole, pode ser Buenos Aires ou qualquer outra do mundo como influenciadora nas tristezas e alegrias na vida de seus moradores, vivendo em apartamentos minúsculos, aonde muitas vezes não se vê a luz do sol e ainda a imersão dos mesmos em vidas tão particulares, catapultadas por atrativos, como a “vida virtual”, que cada vez mais nos enclausura em casa, criando neuroses e medos em enfrentar uma vida considerada "real".

Nesse meio tempo somos apresentados a Martin (o carismático Javier Drolas), rapaz que como web designer vive na internet e pouco sai de casa, influenciado também por uma desilusão amorosa. Tem como vizinha de quarteirão a arquiteta Mariana (a belíssima Pilar López de Ayala), que como ele está um tanto frustrada com um amor acabado, que tenta se reerguer na sua tristeza. Eles não se conhecem, mas poderiam ser almas gêmeas senão vivessem escondidos em casa com seus receios ou presos ao computador. Esse também é um outro dos diálogos do filme: o isolamento humano dentro de uma cidade tão populosa.

O suposto tom de alegoria publicitária acaba rendendo essa inevitável e errônea comparação devido a como o diretor conduz seu filme, com seqüências bem explicativas sobre a cidade de Buenos Aires ou a fotografia que lembra calendários de moda, mas ganha muito por ser uma obra fluida, com um delicioso sabor de fábula moderna, de bom humor, mesmo que muitas vezes demonstre uma faceta triste, fazendo até um reflexo do estado de espírito do próprio povo argentino, que vive uma melancolia nacional devido à crise econômica que assola o país.

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Baseado em aclamada obra literária de Lourenço Mutarelli , o mesmo autor de O Cheiro do Ralo , Natimorto , dirigido pelo novato Paulo Machli...

262 - Natimorto (Paulo Machline/2009)

Baseado em aclamada obra literária de Lourenço Mutarelli, o mesmo autor de O Cheiro do Ralo, Natimorto, dirigido pelo novato Paulo Machline é uma obra bem interessante, apesar de irregular, tensa ao extremo, com certo humor acido, que carrega um forte tom teatral, mas que também apresenta um diretor com apuro para construir cenas visualmente impactantes, como uma em que o protagonista aparece coberto por vermes e baratas ou outra em que o mesmo regride a posição fetal dentro de uma banheira.

Talvez o que faça Natimorto não ser uma realização extremamente louvável seja a atuação de Simone Spoladore, que parece demorar a acertar o tom de sua personagem, que é uma cantora que parece ser forte, mas na verdade é tão frágil quanto o sujeito assexuado representado pelo próprio escritor Lourenço Mutarelli, que entrega uma interpretação visceral, na pele de um homem que entra em um processo de autodestruição física e mental enclausurado em um apartamento. A atuação bem acima de Mutarelli faz com que o antagonismo pretendido pela obra em relação aos personagens, como se ela fosse a Vida e ele a Morte, perca a força, como se toda a situação já fosse batalha perdida para a moça.

O desenrolar da trama começa com o Agente, como é tratado o personagem de Mutarelli pelo narrador, propondo a Voz (Simone Spoladore) que eles abandonem a vida externa e vivam uma outra reclusa em um quarto de hotel por quanto tempo puderem. O Agente acredita em astrologia e lê as cartas, na falta delas, começa a ler aquelas fotos de informações sobre doenças nos maços de cigarro, que são acesos e fumados em profusão, fazendo assim um comparativo com as cartas do Tarô. Algumas comparações soam altamente criveis, criando um paradoxo com a própria existência do ser humano. A sorte lida no maço de cigarros é o reflexo do que vai ser o dia deles, como a foto do Natimorto, que aparece como um dos principais simbolismos da obra.

Carregado de algum misticismo, com diálogos bem escritos, pena que em alguns momentos mal representados, uma trilha sonora que exalta a sensação de claustrofobia que o diretor concebe com a sua câmera muitas vezes colada ao rosto dos atores ou enquadrando apenas suas bocas e expressões, Natimorto se mostra como um sopro de originalidade em meio a produções nacionais tão iguais. Pode não ser um supra-sumo, mas dá para dizer que é cinema bem feito e de qualidade.e expressque o diretor cri

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Apesar de ter assistido apenas quatro obras de Dario Argento , percebi que uma coisa é fato, o cinema do “melhor diretor de Giallos” é um ta...

261 - Tenebre (Tenebrae/Dario Argento/1982)

Apesar de ter assistido apenas quatro obras de Dario Argento, percebi que uma coisa é fato, o cinema do “melhor diretor de Giallos” é um tanto fetichista, com as mãos dos assassinos cobertas por luvas ou os pés calçados com belos escarpins vermelhos, como nesse Tenebre de 1982, ou ainda a violência que surge sempre de forma esmeradamente estilizada e que parece causar prazer tanto ao seu criador quanto ao expectador, que fica abismado com o detalhismo que Argento usa para conceber suas mortes.

Nos Giallos de Argento, as atuações são meras composições para que o mais importante aconteça: os assassinatos, sejam eles a navalhadas, a machadadas, empalados por lanças ou por estrangulamento. Argento cria toda uma atmosfera, com uma trilha sonora incisiva e sua câmera subjetiva, para que o intento soe como arte e faça o expectador delirar com todas aquelas situações macabras que pipocam na tela. Desde um cão perseguindo uma menina indefesa até o epílogo sensacional, passando por uma seqüência em que a câmera explora um prédio em seus mínimos detalhes antes de nos brindar com o assassinato de duas moças. 

A trama de Tenebre também funciona como um subterfúgio para todo o espetáculo sangrento proposto por Dario Argento: um escritor de livros de suspense começa a ser perseguido por um fã-assassino que parece matar em seu nome. Argento não chega a ser tão gore quanto outros diretores de Giallos, como Lucio Fulci que parece ter subvertido o gênero, mas certamente apresenta uma obra que é referencial para o cinema de terror. Prelúdio para Matar ainda é meu preferido desse diretor, mas Tenebre certamente vem logo abaixo, isso por enquanto, porque sei que a sua filmografia guarda pequenas obras-primas.

Ranking Pessoal Dario Argento:

1º - Prelúdio Para Matar (Profondo Rosso/1975)
2º - Tenebre (Tenebrae/1982)
3º - Jogador Misterioso (Il Cartaio/2004)
4º - Giallo – Reféns do Medo (Giallo/2009)

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A estréia do ator Marco Ricca na direção com Cabeça a Prêmio se mostra um tanto insossa, assim como o filme, que apesar de apresentar pers...

260 - Cabeça a Prêmio (Marco Ricca/2009)

A estréia do ator Marco Ricca na direção com Cabeça a Prêmio se mostra um tanto insossa, assim como o filme, que apesar de apresentar personagens interessantes, como o criminoso descontrolado representado por Otávio Muller ou o piloto de avião hermano (Daniel Hendler) que se entrega a justiça para testemunhar contra o ex-empregador, não engrena em nenhum momento, tornando-se uma sessão com alguns momentos que parecem intermináveis ou outros bem enfadonhos.

A trama até promete no que poderia ser um filme interessante sobre corrupção, ilegalidade e no meio disso tudo um romance, mas os personagens parecem mal desenvolvidos e as cenas um tanto contemplativas, tirando o bom ritmo que o filme poderia ter. Fúlvio Stefanini não convece como uma espécie de mafioso e até Alice Braga aparece um tanto preguiçosa em cena. Os leões de chácara defendidos por Cássio Gabus Mendes e Du Moscovis acabam sendo o que a realização apresenta de melhor, os personagens são parceiros, mas se antagonizam e o bom-humor de Cássio Gabus Mendes é um alivio em meio a uma obra que pleiteia ser tão sisuda.

Cabeça a Prêmio, apesar de fraco, não chega a se comparar a péssimos produtos nacionais lançados recentemente, mas a pretensão do diretor em tentar tornar tudo crível cria um filme que busca fugir das costumeiras obras nacionais de forte enfoque violento e criminal, como os recentes Tropa de Elite e Cidade de Deus. A falta de ação pode fazer a produção soar chata e desinteressante, tanto que em certo momento, talvez percebendo que as coisas não estavam funcionando e na intenção de tornar a obra mais simpática, o diretor cria uma reviravolta, aonde enfia uma improvável sub-trama homossexual na historia. 

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É notável o aparato para que Taylor Lautner se saia bem em cena nesse Sem Saída , dirigido por Jon Singleton , de obras como +Velozes +Furi...

259 - Sem Saída (Abduction/Jon Singleton/2011)

É notável o aparato para que Taylor Lautner se saia bem em cena nesse Sem Saída, dirigido por Jon Singleton, de obras como +Velozes +Furiosos e o premiado Os Donos da Rua de 1991. Mesmo a boa quantidade de talentosos atores, como Alfred Molina, Sigourney Weaver, Maria Bello, Jason Isaacs e até o excelente ator sueco Michael Nyqvist, protagonista da versão nórdica para Os Homens que não Amavam as Mulheres, e ainda cenas que favorecem o porte atlético do jovem ator, não conseguem esconder a falta de talento dramático de Lautner para a demanda de seu personagem.

Não que Sem Saída seja um thriller comercial ruim, não chega a tanto, fico em um meio-termo, principalmente pela atuação sem expressão de Lautner, que é um dos astros da franquia Crepúsculo, que vem a ser uma das mais lucrativas atualmente (?). A obra tem alguns furos no roteiro, soluções óbvias, cortes bruscos, como se o diretor tivesse preguiça em realizar algum plano-sequência, mas mesmo assim consegue segurar o expectador com um bom ritmo, cenas de ação e de lutas bem coreografadas e que remetem a produções feitas a moda antiga. Se o filme se propusesse apenas a explorar esse lado frenético de ação descerebrada, talvez passasse melhor, mas como a trama nos apresenta um romance, com viés platônico, acaba tendo nesse enfoque seus piores momentos, com cenas que chegam a dar vergonha.

Na trama, Nathan (Taylor Lautner) descobre que seus pais não são seus pais e se vê envolvido em uma conspiração de espionagem governamental, envolvendo seu verdadeiro pai (que seria um perigoso agente autônomo), agentes da CIA e agentes russos. No meio desse turbilhão, ainda arruma tempo para se enamorar com a vizinha Karen (a belíssima Lily Collins). Tirando os momentos do insosso romance, fica interessante assistir os bons atores trabalharem, principalmente Alfred Molina e Michael Nyqvist, que rouba praticamente todas as cenas em que aparece, mas o ator sueco merecia uma obra melhor para estrear em produções ianques.

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Nem homens, nem mulheres, seres humanos. Esse era o lema que o grupo musical/teatral conhecido como Dzi Croquettes carregava. O documentário...

258 - Dzi Croquettes (Tatiana Issa, Rafael Alvarez/2009)

Nem homens, nem mulheres, seres humanos. Esse era o lema que o grupo musical/teatral conhecido como Dzi Croquettes carregava. O documentário realizado por Tatiana Issa (que é filha de um dos ex-integrantes da equipe dos Dzi) e Rafael Alvarez procura resgatar na fraca memória nacional o passado de um grupo que tanto revolucionou a cena brasileira como a européia e só não pararam na Broadway por acaso do destino, angariando fãs como Liza Minelli, Jeane Moureau, Mick Jagger, Josephine Baker, Omar Shariff, isso falando de astros internacionais, sem contar os nacionais, que pontuam o DOC com comentários entusiasmados sobre a vida e a historia dos talentosos e inusitados 13 componentes da trupe.

Certamente muito da notoriedade dos Dzi Croquettes vinha da inventividade e talento do coreógrafo americano Lenny Dale, que carregava a alcunha de bad-boy da Broadway e cansado do marasmo das produções ianques resolve se aventurar em praias brasileiras, mais especificamente cariocas, aonde conhece o também coreógrafo Wagner Ribeiro, que tinha a intenção de montar um espetáculo de vanguarda, que seria uma mistura de Cabaret, com forte influência do coreógrafo Bob Fosse, com o carnaval carioca. Nem precisa dizer que Lenny achou genial e logo se formou o grupo, que causou uma balburdia no mundo artístico dos anos 70, aonde se vivia uma época em que tudo poderia ser censurado e com jogo de cintura, até porque eram considerados meros transformistas e os censores não entendiam e nem levavam os Dzi muito a sério, foram censurados em apenas uma das suas apresentações, por conta do excesso de nudez.

Os trezes integrantes moravam juntos e viviam em uma espécie de sociedade própria, aonde não existiam regras e claro que tudo também era regado a muitas loucuras e drogas. Talvez, o vicio em drogas tenha sido o grande motivo do fim do grupo, assim como aconteceu e acontece com outros artistas de sucesso. Agora, uma coisa é fato, ao apreciar as cenas do espetáculo, percebe-se que tinham muito talento para dança, atuação e humor, fazendo uma critica ácida a sociedade e depois, ainda sendo considerados um dos precursores da comédia amoral no Brasil. Claro que os Dzi ganham outras conotações nos dias de hoje e em certo momento do filme, um dos entrevistados os citam como o primeiro libelo de um movimento gay no país.

Seguindo uma linha narrativa pontuada por testemunhos de fãs famosos, Dzi  remanescentes e por números dos grupo, que apresentavam uma impressionante precisão ao executá-los, como obra cinematográfica, Dzi Croquettes funciona bem e agrada a leigos como eu que não conheciam a historia do espetáculo, podendo até formar novos fãs dos andróginos rapazes, que com certeza influenciaram uma vasta gama de artistas nacionais e internacionais. Além de todo o viés artístico, o DOC também apresenta um retrato do regime de ditadura, uma época sombria que o nosso país se manteve imerso, e que mesmo com tanto censura e repudio a arte, não deixou de ser um dos momentos mais criativos da nossa historia.

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Restrepo era um soldado americano morto em ação em uma investida do exercito para instalar um Posto Avançado no Vale Korengal em 2007, no Af...

257 - Restrepo (Sebastian Junger, Tim Hethergton/2010)

Restrepo era um soldado americano morto em ação em uma investida do exercito para instalar um Posto Avançado no Vale Korengal em 2007, no Afeganistão, conhecido como uma das regiões mais perigosas do planeta. Após a conquista desse ponto, que seria o mais perto que as tropas americanas chegariam dos Talibãs, o local foi batizado em homenagem a esse jovem que faleceu no confronto. Um dos pontos de partida do documentário Restrepo, dirigido pela dupla de fotógrafos de guerra, o americano Sebastian Junger e o britânico Tim Hethergton, é a comoção do pelotão sobre a morte do personagem-título, que parece funcionar ainda como força motivadora para todos.

Claro que esse ponto de partida faz com que o expectador tencione a favor dos soldados, mas a linha narrativa proposta pelos diretores não se dispõe a advogar para nenhum dos lados. O que vemos são jovens (bem jovens mesmo) sendo liderados por pessoas que estão tão confusas como eles. Eles sabem que estão ali para tomar o local, para matar ou morrer pelo seu país e mesmo desnorteados, demonstram até certo ponto sentir prazer nisso, como em certo momento um dos soldados cita, que a Guerra é como o crack, altamente viciante. Vemos também cenas dos soldados tentando dialogar com o povo local, que sequer entende o que eles propõem e que de uma maneira ou de outra se vêem obrigados a se envolver na Guerra Santa de seus patriotas, mesmo não querendo e ainda tornado-se vitimas.

Os diretores talvez não tenham a clara intenção de criar um dialogo sobre a situação da ocupação americana no Afeganistão e sim criar um DOC que mostre cenas impressionantes, captadas com uma câmera em primeira pessoa que nos coloca como um soldado do batalhão, que ainda carregam outras câmeras em seus capacetes para não perder um momento da ação, que aparece em boa quantidade e em tomadas jamais vistas em algum filme ficcional sobre a guerra. Com os soldados “metendo bala” nos Talibãs e vice-versa. Só que indiretamente, não sei se pelo viés do assunto, a inserção posterior dos relatos dos combatentes acaba criando esse clima de debate. No final, uma coisa parece certa, tocados de maneira súbita, pela perda de amigos ou do sofrimento no Posto Avançado, os jovens soldados nunca esquecerão o que viveram em Restrepo.

P.S: Um dos diretores, o fotógrafo britânico Tim Hethergton, nomeado pelo Oscar pela produção, foi morto em Abril deste ano em Misrata, na Líbia, enquanto registrava um Front de batalha.

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O trailer de Missão Madrinhas de Casamento sugere uma versão feminina de Se Beber, Não Case , até que existem algumas semelhanças, mas a pr...

256 - Missão Madrinhas de Casamento (Bridesmaids/Paul Feig/2011)

O trailer de Missão Madrinhas de Casamento sugere uma versão feminina de Se Beber, Não Case, até que existem algumas semelhanças, mas a produção dirigida por Paul Feig, que trabalhou em varias series de TV, incluindo a cultuada Freaks & Geeks é um filme que tem áurea própria, principalmente pela atuação da engraçada Kristen Wiig, mais uma revelada pelo Saturday Night Live. No contexto atual cinematográfico, pode-se dizer que a obra ousa em colocar atrizes maduras no papel de protagonistas, tanto Kristen Wiig quanto a noiva defendida por Maya Rudolph tem seus quarenta anos e nem são tão belas assim, mas o carisma em cena faz ate esquecermos os dotes físicos e curtimos o talento e bom timing cômico da dupla.

A historia é um tanto simples e até batida, Lílian (Maya Rudolph) vai se casar e convida a amiga de infância Annie (Kristen Wiig) para ser sua dama de honra, que na cultura dos casamentos americanos é quem organiza tudo, desde o chá de panela a roupas para celebração e outros inúmeros eventos. Annie é um tanto frustrada com suas aspirações profissionais e pessoais, dividindo um apartamento com uma improvável dupla de irmãos e fazendo sexo casual com um sujeito que a despreza. Alem dos contratempos usuais, Annie é deveras avessa e atrapalhada a pompa das comemorações e mesmo assim deseja satisfazer a amiga, mas para piorar tudo, aparece Helen (Rose Byrne), milionária aspirante a melhor amiga de Lílian e que parece querer desmerecer a dama de honra em tudo que se propõe a fazer.

O filme ganha pontos em fugir de tradicionais cenas escatológicas, que renderiam risos fáceis, procurando até certo ponto explorar as dificuldades que uma mulher pode ter em se manter feminina e atraente em um mundo que tende às masculinizar. Claro que Missão Madrinhas de Casamento não tem a intenção de teorizar muito sobre o mundo peculiar das mulheres, mas se apresenta como uma comédia divertida, com cenas engraçadas, como a que Annie tem que provar que não esta bêbada para um pretendente policial  ou uma em que aparece drogada dentro de um avião, e ainda satiriza com habilidade todo esse universo particular dos matrimônios. Uma boa surpresa, que vale uma olhada.

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Segundo filme de Walter Hugo Khouri , Estranho Encontro de 1958, marcou a transição do diretor da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, aond...

255 - Estranho Encontro (Walter Hugo Khouri/1958)

Segundo filme de Walter Hugo Khouri, Estranho Encontro de 1958, marcou a transição do diretor da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, aonde fez seu primeiro filme, O Gigante de Pedra, para a Brasil Filmes, que apesar da mudança de nome, continuou a usar os estúdios e equipamentos da extinta produtora. A Vera Cruz ficou conhecida pelo classicismo de suas produções e Estranho Encontro não é diferente, remetendo a todo o glamour que o cinema propunha ter nos anos 50, principalmente o Noir, comprovado pela bela fotografia preto e branco, a trilha sonora mágica de Gabriel Migliori e as atuações marcantes do elenco, que não faria feio em filmes Hollywoodianos da época.

A historia começa com o bon-vivant Marcos (Mario Sergio) encontrando a bela e perturbada  Julia (Andréa Bayard) em rota de fuga em uma estrada deserta no meio da noite. Marcos a leva para uma bela propriedade em que pretendia passar o final de semana. Julia lhe conta a sua historia, em um genial flashback, que consiste no relacionamento doentio que mantinha com Hugo (Luigi Pichi), um neurótico ex-combatente de guerra, que a mantinha como prisioneira e que motivou sua fuga. A atração entre Marcos e Julia é evidente, talvez até amor à primeira vista, mas sem duvida a figura frágil da moça fez com que aflorasse o lado mais protetor de Marcos. Nesse contexto, ainda temos o cínico caseiro (Sergio Hingst), um tanto desconfiado, que começa a investigar os passos de Marcos e para aumentar a tensão, o que eles menos  contavam é que a amante (Lola Brah) de Marcos, dona da propriedade, aparecia sem avisar.

Estranho Encontro é um filme repleto de cenas maravilhosas, algumas sensíveis, outras tensas, desde a inicial, passada na estrada ao epílogo realizado em um bambuzal. A atriz Andréa Bayard ilumina a tela quando aparece, seu belo rosto nos faz lembrar as grandes divas do cinema e o galã Mario Sergio demonstra uma impressionante química com a moça, difícil não torcer pelos dois. O imponente casarão onde se passa toda a trama remete um tanto a Crepúsculo dos Deuses, reforçado ainda pela atuação de Lola Brah, que faz a amante madura de Marcos e carrega uma atuação à lá Gloria Swanson, guardada as devidas proporções, é claro. Se Estranho Encontro tivesse sido realizado nos EUA, com certeza, seria tratado com muito carinho, com restaurações em DVD especial lotado de extras ou ainda em BD, sendo reverenciado por publico e critica, mas nosso país é conhecido por não ter memória e uma pequena Obra-Prima como essa acaba ficando esquecida e restrita a amantes do cinema. 

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Existe um fato engraçado na apreciação de Gotas D’Água em Pedras Escaldantes , nos créditos iniciais logo vem à informação de que a obra er...

254 - Gotas D'Água em Pedras Escaldantes (Gouttes d'eau sur pierres brûlantes/François Ozon/2000)

Existe um fato engraçado na apreciação de Gotas D’Água em Pedras Escaldantes, nos créditos iniciais logo vem à informação de que a obra era baseada em texto de Rainer Werner Fassbinder, diretor que sempre me cobro e prometo de assistir a mini-serie Berlin Alexanderplatz, e que também não assisti nada, mesmo sempre sendo cobrado pelos amigos cinéfilos. De uma maneira ou de outra, um pouco de Fassbinder acabou vindo parar em minhas mãos, meio que sem querer, com a indicação dessa realização do diretor francês François Ozon pelo amigo Ailton Monteiro no post recente do filme O Refúgio.

Pelo que andei lendo, Gotas D’Água em Pedras Escaldantes guarda um pouco do sarcasmo que Fassbinder aplicou em obras como Berlin Alexanderplatz, mas sem duvida a concepção estética e da trama tem muito de Ozon, com cenas que remetem a outras realizações suas. Como o próprio titulo sugere, na trama, as Gotas D’Água seriam o jovem Franz (Malik Zidi), a sua ex-namorada Anna (a estonteante Ludivine Sagnier) e a transsexual Vera (Anna Levine), e as Pedras Escaldante seriam o dominador Leopold (o excelente Bernard Giraudeau). Na presença escaldante de Leopold, as gotas se dissipam e viram mera precipitação, podendo ainda se tornar nuvens de chuva.

A obra carrega forte tom teatral, tanto que tudo acontece dentro do apartamento de Leopold, desde o encontro inicial com o indeciso Franz, que de noivo prestes a se casar, passa a amante passivo do homem. Leopold se interessa tanto pelo sexo quanto pelas maneiras que tem de diminuir ou desprezar o rapaz. A divisão por atos, aparece pontuando também as fases de um relacionamento, seja homossexual ou hetero, sempre há o deslumbre inicial, que depois pode se converter em desinteresse, talvez devido ao marasmo ou detalhes do caráter da pessoa que possam começar a irritar ou mesmo pela vontade de se procurar “carne nova”, como em certo momento a transsexual Vera, ex-amante de Leopold, cita.

Lá pelo terceiro ato, entra em cena a sonhadora Anna, ex-noiva de Franz, que pretende resgatar o rapaz para si, ainda acreditando que o jovem tenha vivido apenas uma aventura e não ame Leopold, mas tudo acaba ganhando uma dimensão pervertida quando o homem flagra os jovens em sua casa após fazerem sexo. Iniciando assim um jogo sexual com o casal e com Vera que acaba aparecendo no mesmo momento, clamando por sua ajuda. Ali, percebe-se o verdadeiro prazer de Leopold: manipular as pessoas com seus joguetes em que todos acabam ficando a sua mercê. Gotas D’Água em Pedras Escaldantes é um filme inevitavelmente dramático, mas que guarda um humor bem peculiar às obras de Ozon, que parece fazer filmes que sempre tem o que dizer, mesmo os cômicos. 

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Depois de uma péssima terceira temporada, os produtores e diretores de True Blood , de forma louvável, tornaram a serie novamente interessan...

242 - 253 - True Blood, Quarta Temporada (HBO/2011)

Depois de uma péssima terceira temporada, os produtores e diretores de True Blood, de forma louvável, tornaram a serie novamente interessante, criando uma quarta temporada bem divertida, exaltando o tom de aventura trash que a própria adquiriu com o passar dos anos. Sabendo que se continuassem na seqüência do final da terceira temporada pouca coisa ia render, resolveram dar um salto temporal e colocaram os acontecimentos em Bon Temps um ano à frente, como se quisessem mesmo apagar toda aquela historia passada. Descartaram em parte a trama das fadas e situaram a historia em um duelo entre vampiros e bruxaria, representada pela bruxa Marnie (Fiona Shaw) que encarna outra poderosa, Antonia, que sofreu nas mãos de vampiros-padres na época da inquisição, há séculos atrás, e quer vingança contra os sugadores de sangue.

Dos personagens mais interessantes, como a maravilhosa, linda e sensual Deborah Ann Woll que ganhou merecidamente mais destaque, até pelo apelo de seu personagem, que de vampira bobinha, passa a sedutora e instigante. Outra situação que ficou bem interessante foi o relacionamento entre o vampiro-viking Erik e a protagonista Sookie, com belas e deliciosas cenas de sexo, principalmente uma realizada na floresta. Alias, um dos pontos altos da serie continua sendo o sexo, explorado de forma ousada e Anna Paquin, que mesmo não sendo tão bela, consegue transmitir um furor impressionante quando tira a roupa. O vampiro Bill é que pareceu perder um pouco de força como Rei, mas teve seus bons momentos, principalmente na batalha final contra Marnie/Antonia.

Além de desenvolver a trama em uma narrativa envolvente, essa quarta temporada ainda conseguiu apresentar um episodio bem emocionante, em que Lafayette encarna uma mulher que foi assassinada e enterrada junto com seu bebê, e o cozinheiro gay do Merlotte´s, que agora é médium (isso mesmo), com a ajuda de seu namorado bruxo, conduz a alma da moça a encontrar a paz, em uma cena bem tocante. Mesmo parecendo muitas vezes que cada vez menos existem humanos normais em cena, True Blood mostrou que ainda tem força, quando explorada de maneira correta, mesclando ação, violência, humor, sexo e terror (mesmo não assustando ninguém). Pontas ficaram soltas para uma quinta temporada, agora é esperar para ver no que vai dar.

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Fã que sou do Cimério de Bronze e da lendária publicação A Espada Selvagem de Conan , era obrigatório uma visita ao cinema para conferir ess...

241 - Conan, O Bárbaro (Conan The Barbarian/Marcus Nispel/2011)

Fã que sou do Cimério de Bronze e da lendária publicação A Espada Selvagem de Conan, era obrigatório uma visita ao cinema para conferir essa nova adaptação das desventuras do bárbaro. O inicio promissor, mostrando a sua juventude, confere a esse Conan uma caracterização mais parecida com a vista nas historias da ESC, diferente do personagem taciturno composto por Arnold Schwarzeneger na produção de 1982 dirigida por John Milius. Assim, forjando um guerreiro mais falastrão e com certo charme que o ator Jason Momoa, da excelente serie Game of Thrones, consegue aferir ao personagem.

A trama gira em torno da vingança que Conan quer desferir contra Khalar Zym (Stephen Lang), algoz de seu Pai (Ron Pearlman) e uma espécie de soberano da fictícia Era Hiboriana, que se utiliza da magia de sua filha, a bruxa Marique (Rose McGowan irreconhecível) e de uma máscara mágica, forjada com os ossos de Reis e que deseja utilizar para ressuscitar a falecida esposa; mas para isso precisa do sangue de Tamara (Rachel Nichols) uma descendente pura de uma linhagem de sacerdotes poderosos. Como por destino, Tamara acaba cruzando caminho com Conan, que pretende utiliza-la para atrair Khalar Zym.

A premissa é até interessante, mas no desenrolar da trama vemos que a obra realizada pelo diretor Marcos Nispel, do bom remake de Sexta-Feira 13 e do irregular Os Desbravadores, se preocupa muito com as cenas de ação, que não são poucas e mesmo assim não conseguem criar o devido clima, em detrimento a um cuidado melhor a personalidade dos personagens, que parecem todos um tanto superficiais e sem muitos propósitos, até mesmo Conan. As cenas de ação usam tantas câmeras para captar tantos momentos diferentes que como resultado acaba não se entendendo muito que está acontecendo e em certos momentos aborrecendo o expectador.

Claro que o filme tem um referencia interessante aqui e acolá, como as cabeças arrancadas que o bárbaro sempre se dispõe a trazer ou uma cena de sexo que remete muito bem aos quadrinhos preto e branco da ESC ou ainda a maneira de ataque do Cimério, saltando encima dos inimigos e fazendo sempre jorrar muito sangue. Agora, o 3D utilizado nesse é um dos mais fajutos realizados, pouca funcionalidade e mostrando que o filme pode e deve ser apreciado em 2D. Como ficou, Conan, O Bárbaro se mostra como um filme que poderia ser antológico, mas ficou um tanto meia-boca.

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Não é que o crossover de western e ficção, Cowboys & Aliens é um filme divertido. A obra dirigida por Jon Favreau , um dos diretores c...

240 - Cowboys & Aliens (Jon Favreau/2011)

Não é que o crossover de western e ficção, Cowboys & Aliens é um filme divertido. A obra dirigida por Jon Favreau, um dos diretores com mais moral hoje em dia em Hollywood, se mostra um blockbuster realizado com esmero pelo estúdio. O roteiro escrito por um verdadeiro time se preocupa em criar nuances aos personagens envolvidos, desde o protagonista Jake Lonergan (Daniel Craig), sujeito que aparece desmemoriado em uma cena inicial digna dos grandes faroestes, ao capanga índio Nat (Adam Beach), um personagem secundário que soaria descartável. De um jeito ou de outro, todos tem algum envolvimento emocional na trama.

A historia dos alienígenas que invadem a terra na época dos cowboys, ainda se importa em criar um clima de velho oeste, com longas caminhadas de cavalo, imagens lindas de desfiladeiros e montanhas. Em minha opinião, o western é um gênero que nasceu para o cinema e Favreau capta bem isso com suas câmeras, deve ser uma maravilha poder conferir em IMAX essas belas imagens. Os alienígenas não chegam a ser novidades e nem metem medo em ninguém, mas funcionam bem nas batalhas e ainda temos uma cena bem especial em que um dos cowboys laça um dos aliens, ao melhor estilo vaqueiro.

Daniel Craig se afirma cada vez mais como um ator interessante para interpretar heróis sérios, mas ver Harrison Ford como um coronel durão, dá um charme todo especial a produção, uma delicia assistir Ford, no seu melhor jeito canastra de ser, chegando no momento exato para salvar tudo no melhor estilo Indiana Jones e ainda tem a belíssima Olívia Wilde, interpretando uma misteriosa andarilha. Claro que Cowboys & Aliens tem um furo aqui e acolá, alguns clichês, normal, mas tem o mérito de fazer as cenas para criar clima funcionarem e acreditem, na sala em que estava, alguns empolgados bateram palmas ao final da sessão.

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Um expectador mais atento sabe quando está de frente com uma obra diferenciada, que é o caso de O Refúgio , produção francesa comandada pelo...

239 - O Refúgio (Le Refuge/François Ozon/2009)

Um expectador mais atento sabe quando está de frente com uma obra diferenciada, que é o caso de O Refúgio, produção francesa comandada pelo talentoso e eclético diretor François Ozon. Um filme afetuoso e sensível, que retrata um dos momentos mais delicados na vida de uma mulher: a gravidez, mesmo a não programada e fruto de uma relação problemática e doentia, como é o caso dessa mostrada aqui.

Mousse (Isabelle Carré) é uma bela jovem, que vivia um romance baseado em drogas pesadas e inevitavelmente seu parceiro tem uma overdose, deixando-a sozinha e grávida. Sem apoio de ambas as famílias, ela resolve se enclausurar em uma bela casa de praia, considerada pela própria como seu refúgio. O irmão gay (Louis-Ronan Choisy) do falecido amante aparece por lá e os dois acabam desenvolvendo um terno relacionamento, baseado em sinceridade e amizade, com belos momentos, como um em que o rapaz toca a lindíssima  canção Le Refuge ao piano.

O Refúgio é uma obra que apesar de lenta, envolve o expectador na áurea de beleza que procura entoar, principalmente ao vermos Mousse renascer aos poucos, o bebê que está sendo gerado faz com que a moça fique mais bela, mas sua mente prostrada acaba não entendendo isso, como a vida pode surgir de uma alma devastada pelas drogas e que não sabe mais amar? Definitivamente, um filme tocante, que trata sobre os sentimentos humanos e como muitas vezes ficamos a mercê deles ou não sabemos lidar.

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Tendo assistido apenas Eu. de 1987 da filmografia de Walter Hugo Khouri é inevitável uma comparação com esse Noite Vazia de 1964, nos ido...

238 - Noite Vazia (Walter Hugo Khouri/1964)

Tendo assistido apenas Eu. de 1987 da filmografia de Walter Hugo Khouri é inevitável uma comparação com esse Noite Vazia de 1964, nos idos da filmografia desse diretor. Claro que a diferença de anos torna a comparação sem propósito, mas apesar desse Noite Vazia parecer muito mais solene do que Eu., percebe-se que um dos tema que Khouri gosta de tocar em suas obras é sobre o poder, mesmo um poder aplicado em forma monetária, que acontece com o Marcelo de Eu. e também aparece nesse na forma  de Luisinho (Mario Benvenutti), playboy que passa boa parte da vida em encontros fortuitos em um apartamento preparado para isso.

Lusinho e Nelson (Gabriele Tinti) saem pela noite de SP à procura de diversão e mulheres que tenham algo “diferente”, para que possam levar para uma noitada no apartamento de alcova de Luisinho. Um drink em um bar aqui, uma passada em uma boate ali, um restaurante lá e durante a peregrinação acabam esbarrando em duas prostitutas de luxo (Norma Bengell e Odete Lara), que prontamente se colocam a disposição de acompanhá-los ate o apartamento, mesmo uma delas antagonizando Luisinho o tempo todo, que apesar de tudo, parece não se divertir, mesmo tendo tudo a sua disposição, e faz um tipo de jogo maléfico com o amigo Nelson, que parece sentir-se culpado o tempo todo por participar das perversões do amigo.

Na verdade, Luisinho, talvez, sinta mais prazer em manipular as mulheres com seu dinheiro, que a todo tempo esfrega na cara das moças, do que com o sexo, que aparece com algumas reminiscências em cena, principalmente na figura da prostituta defendida por Norma Bengell, que mesmo sendo promiscua, parece querer manter alguma integridade e ainda parece se interessar verdadeiramente por Nelson, mas a trama não chega a dar profundidade a um romance, mostrando como muitas vezes uma vida de farras e noitadas pode ser tão vazia como uma vida até certo ponto tradicional e como o ser humano pode ser incompleto na sua busca itinerante por satisfação.

Em Noite Vazia, Khouri se mostra ainda como um realizador apurado, construindo belas cenas, como uma em que todos os personagens aparecem tomando banho de chuva na varanda do apartamento, como se lavassem suas almas perdidas de todos os males. Apesar de ser um filme dramático, ele carrega em certos momentos uma trilha sonora que remete a suspense, como se alguma coisa estivesse para acontecer a qualquer momento, criando uma tensão que passa ao expectador. Posso até estar errado, mas também achei que essa obra guarda uma boa inspiração em Bergman, como eles são contemporâneos, pode até proceder, mas sem duvida, essa descoberta de Khouri até agora tem sido extremamente satisfatória, pena seus filmes serem tão difíceis de achar.

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Sinceramente, o trailer em formato de clipe de O Homem do Futuro não tinha me animado nem um pouco em assistir, mas pela falta de boas opçõ...

237 - O Homem do Futuro (Cláudio Torres/2011)

Sinceramente, o trailer em formato de clipe de O Homem do Futuro não tinha me animado nem um pouco em assistir, mas pela falta de boas opções, acabo sempre dando chance a produções nacionais e esse ainda é dirigido pelo Cláudio Torres do divertido Redentor de 2004, um filme que mesclava bem fantasia e realidade em uma trama que  homenageia de certa forma uma historia clássica de herói dos quadrinhos.

Visto, O Homem do Futuro me agradou muito, sendo em minha opinião, até agora o melhor filme nacional lançado no circuito em 2011. Um tanto da força dessa obra vem do ator Wagner Moura, que constrói três personagens de si mesmo que se encontram em uma cruzada temporal, o cientista Zero, que acidentalmente ou não, cria uma maquina do tempo e acaba indo parar em um momento crucial da sua vida, aonde conheceu o amor e o perdeu, achando que tal situação, originou a mediocridade da vida pessoal que leva.

O filme é todo revestido de nostalgia oitentista, com um saboroso gosto das antigas sessões da tarde, marcado pela canção Tempo Perdido do Legião Urbana, que ajuda a conceber as melhores cenas do filme. Inevitável também uma comparação com a cena de De Volta para o Futuro, a do baile, em que Marty toca uma musica para que seus pais possam finalmente ficar juntos, mas acho que a intenção de Cláudio Torres era construir essa atmosfera que nos remeteria a bons momentos da vida, mesmo os sofridos, criando uma ampla identificação com Zero. Afinal, quem não gostaria de mudar uma parte do seu passado?

Além de uma historia bem contada, O Homem do Futuro apresenta efeitos visuais muito bem realizados, principalmente quando os três Zero estão em cena, dignos de Hollywood. A atriz Alinne Moraes, que faz o interesse romântico do protagonista, consegue entregar uma atuação carismática e os coadjuvantes Fernando Ceylão e Maria Luisa Mendonça compõe muito bem o cenário de reviravoltas que se forma em torno das alterações que as viagens temporais acabam criando. O epílogo pode soar piegas, mas aposto que deixou muita gente feliz.

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O principal tema de Eu. , escrito e dirigido por  Walter Hugo Khouri , poderia ser a formação de uma relação incestuosa, mas na verdade, o q...

236 - Eu. (Walter Hugo Khouri/1987)

O principal tema de Eu., escrito e dirigido por Walter Hugo Khouri, poderia ser a formação de uma relação incestuosa, mas na verdade, o que vemos é o tratamento ao egocentrismo do personagem principal Marcelo (Tarcisio Meira), milionário, poderoso, com mulheres de todos os tipos aos seus pés, desde prostitutas a letradas, passando por empregadas e culminando em uma obsessão por sua própria filha. Khouri constrói toda a trama de uma maneira até certo ponto terna, claro que com momentos extremamente sensuais e deliciosos. Acho eu, que nunca uma nuca feminina foi tão sexy como nessa obra, o símbolo do tesão de Marcelo.

Na trama, Marcelo reúne um time de beldades para passar o final de ano em sua propriedade localizada em uma paradisíaca ilha, para assim aproveitar tudo sozinho, como o mesmo cita, que não precisa ou liga para nada, a não ser para si mesmo. Nessa situação, temos as prostitutas que andam a tira colo (Nicole Puzzi, Monique Lafond e Monique Evans) e ainda aparecem para ebulir mais o local a filha Berenice (Bia Seidl) e a amiga psicóloga Beatriz (Christiane Torloni). Aparentemente o paraíso fica completo com tantas mulheres sexy a serviço de Marcelo, que não esconde o desejo de possuir todas, que de uma maneira ou de outra tentam desvendar a verdadeira face do caráter do homem.

Eu., ainda é um filme com diálogos mordazes e excitantes, trilha sonora que evoca sensualidade tanto quanta as belas mulheres que sempre pipocam com poucas roupas ou nuas em cena. Aliás, como são femininas essas mulheres de Khouri, colocando no chinelo muita gostosona musculosa de hoje. Elas seduzem com olhares, gestos de mão, balançar de cabelos, cruzar de pernas, um deleite para os olhos e sentidos, fazendo momentos que deveriam ser escatológicos, passarem quase que despercebidos e deixar o expectador com vontade de ser Tarcisio Meira, o ator está soberbo como o macho alfa, mostrando como deve se atuar, convincente ao extremo como sujeito poderoso, que passa por cima de tudo para obter prazer.

Se Eu., não é considerada a melhor obra de Walter Hugo Khouri, com certeza é a representatividade de um cinema nacional sem amarras, ousado e talentoso. Alguns cineastas brasileiros, desses globalizados, deveriam pegar a filmografia de Khouri e destrincha-la (como também quero fazer), para assim aprenderem como criar envolvimento de seus personagens com o publico e vice-versa, com cenas bem tratadas, sem pressa de construir a tensão e a excitação, que flui facilmente, e o epílogo, mesmo sendo polêmico, acaba deixando um sorriso safado no rosto do expectador.

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Das adaptações cinematográficas de Nelson Rodrigues havia assistido Boca de Ouro de 1963, dirigida por Nelson Pereira dos Santos e Um Bei...

235 - Toda Nudez Será Castigada (Arnaldo Jabor/1973)

Das adaptações cinematográficas de Nelson Rodrigues havia assistido Boca de Ouro de 1963, dirigida por Nelson Pereira dos Santos e Um Beijo no Asfalto de 1981, dirigida por Bruno Barreto. Todas duas excelentes obras, conduzidas por diretores competentes e que retratam muito bem o universo rodriguiano, mas Toda Nudez Será Castigada se destaca muito desses, assinada pelo controverso Arnaldo Jabor. Um diretor que teve seus alto e baixos, mais conhecido atualmente por suas crônicas no Jornal da Globo, mas que cravou seu nome na historia com um filme belo e mordaz, que remete ao cinema dos mestres italianos.

Herculano (Paulo Porto) é um sujeito católico, apegado à família, que recentemente perdeu a mulher para o câncer, vive uma vida de luto e clausura, acompanhado de suas tias beatas e do irmão fanfarrão Patrício (Paulo César Peréio, soberbo em cena). Preocupado com um iminente suicídio de Herculano e assim ficar sem se dispor do dinheiro que o irmão financia suas farras, Patrício resolve trazer Herculano de volta a vida. Como? Parafraseando Patrício: “A salvação de Herculano é o sexo!”, criando uma das inúmeras seqüências marcantes do filme.

Então, Patrício apresenta Geni (Darlene Glória) ao irmão, uma prostituta de um inferninho qualquer do centro do RJ, que absurdamente se apaixona por Herculano e vice-versa, mas não de uma forma totalmente vulgar, revestida de romance e subvertendo dogmas,  e trazendo indagações como: “Uma prostituta não pode se casar?” Claro que o filme envolve mais situações do que o romance entre Herculano e Geni, ainda temos a figura de Serginho (Paulo Sacks), filho de Herculano que não aceita que o pai se envolva com outra mulher, principalmente uma prostituta, mas em determinado momento a situação muda, principalmente quando Serginho é preso e estuprado na cadeia, em um cena impressionantemente maledicente, em que os presos entoam à canção Bandeira Branca, enquanto o sarcástico Ladrão boliviano (Orazir Pereira) faz o serviço.

Toda Nudez Será Castigada é um filme inevitavelmente dramático, mas com momentos em que o riso flui naturalmente, principalmente nas seqüências em que Herculano e Geni se envolvem amorosamente ou nas que a prostituta joga seus belos seios na cara do expectador. Destaque para uma maravilhosa cena em que Patrício ensina à prostituta como ficar com o irmão, bravejando: “Esnoba! Esnoba!” Com atuações únicas e marcantes de todo o elenco, que ainda se dispõe de coadjuvantes como Henriqueta Brieba e Hugo Carvana, Arnaldo Jabor dirigiu e roteirizou um Nelson Rodrigues, emulando Fellini, mas com uma característica toda própria do nosso cinema, principalmente o considerado marginal. Resultado: uma verdadeira obra-prima!

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Álex de La Iglesia é um diretor que inacreditavelmente não foi descoberto em Hollywood, talvez seu estilo ultra-violento, meio nonsense, me...

234 - Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta/Álex de La Iglesia/2010)

Álex de La Iglesia é um diretor que inacreditavelmente não foi descoberto em Hollywood, talvez seu estilo ultra-violento, meio nonsense, meio surreal, meio bizarro, não tenha se encaixado em nenhuma produção americana de primeira linha, tendo feito fora da sua Espanha apenas o pouco visto The Oxford Murders, com o frodo Elijah Wood. Porém, em produções espanholas, como A Comunidade de 2000, o diretor mostrou que tem talento para contar historia com personagens desajustados, ressaltado em 800 Balas de 2002 e comprovado amplamente com esse Balada do Amor e do Ódio.

Escrito pelo próprio diretor, Balada do Amor e do Ódio, é um filme que retrata a disputa de dois palhaços pelo amor da bela trapezista Natalia (Carolina Bang) do circo aonde trabalham. Sergio (Antonio de la Torre) é o palhaço principal, o que faz as crianças rirem, mas quando esta fora do trabalho é violento, mal humorado, espanca qualquer um que se engraçar com ele ou com Natalia. Javier (Carlos Areces) é o palhaço triste, daqueles que passam boas e poucas no picadeiro, descendente de uma família de palhaços, que no inicio do filme remontam a guerra civil espanhola (em cenas impressionantes) para contar sua própria historia e dos familiares que eram revolucionários. Natalia se envolve com os dois, e um conflito acaba sendo inevitável.

A trama poderia sugerir um filme de romance/drama, mas Álex de La Iglesia subverte os gêneros, colocando muita violência e fetichismo no filme, o amor acaba ficando em segundo plano e tudo descamba para obsessões e perversões. Javier, que deveria ser o mocinho, em certo momento é tão vilão quanto Sergio e vice-versa. Os palhaços aparecem personificados como verdadeiros monstros, tornando tudo muito exagerado e criando um clima de desordem e terror, mas a intenção do diretor deve ter sido essa mesma. A obra também parece ter um tom reverencial ao mundo dos palhaços, mesmo que de uma maneira censurável ou amoral.  Balada de Amor e Ódio, mesmo que não agrade a todos, é um sopro de originalidade no meio de tantas repetições.

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O parco trailer de Apollo 18 – Missão Proibida exibido nos cinemas, não sugere tanto que o filme possa ser um mockumentary , talvez a inten...

233 - Apollo 18 - Missão Proibida (Apollo 18/Gonzalo López-Gallego/2011)

O parco trailer de Apollo 18 – Missão Proibida exibido nos cinemas, não sugere tanto que o filme possa ser um mockumentary, talvez a intenção deva ser essa mesmo, até porque esse estilo de produção costuma afastar o publico e na sala, até que tinha alguns incautos expectadores. Às vezes fico pensando qual a motivação para se realizar uma obra com algum potencial nesse formato: redução de custos? Talvez. Parecer mais real? Não sei. O certo é que tirando o pioneiro Bruxa de Blair de 1999, quase nenhum filme nesse formato teve impacto. Por isso,  a intenção de Apollo 18 – Missão Proibida de ser o Bruxa de Blair no espaço seja tão explicita.

A premissa é até interessante: astronautas são mandados a lua, para investigar seu lado escuro, coletar amostras e fazer filmagens do local, só que algo dá muito errado (oras). O filme sugere que as filmagens são as reais, resgatadas dessa missão, que historicamente não aconteceu, mas que foi o motivo para os americanos não mandarem mais vôos tripulados a Lua. Quer dizer, ainda tem um fundo de mito na historia, mas tudo acaba parecendo um pouco insosso ou enfadonho, com tantas cenas sem sentido, amostrando os astronautas fazendo suas necessidades ou escutando musica ou ainda com tantos termos técnicos usados nas transmissões. O terror mesmo demora a acontecer, mas quando aparece são em poucas cenas, até bem orquestradas, que criam uma forte tensão e sentimento de claustrofobia, e fazem dar saudades dos bons filmes de nave espacial, que tem feito falta ao cinema.

A produção americana comandada pelo desconhecido diretor espanhol Gonzalo López-Gallego, deve receber mais a alcunha de bom do que ruim, mas esse estilo mockumentary torna as coisas um tanto impessoais e de difícil identificação com os personagens. Muitas vezes, parece ser até uma desconstrução do cinema: sem trilha sonora, enquadramentos péssimos e som terrível, mas que merece o seu respeito. Enfim, com um pouco de paciência, se consegue assistir Apollo 18 – Missão Proibida e de repente, até se divertir.

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Um dos representantes de melhor qualidade dos filmes de terror com temática rural realizados nos anos 70 nos EUA, que teve como o maior expo...

232 - Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes/Wes Craven/1977)

Um dos representantes de melhor qualidade dos filmes de terror com temática rural realizados nos anos 70 nos EUA, que teve como o maior expoente em O Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hoper em 1974. Quadrilha de Sádicos se mostra como uma obra visceral e pulsante ainda nos dias de hoje. Em sua segunda realização, o diretor Wes Craven, talvez tenha concebido sua melhor obra, mesmo depois tendo realizado o cultuado A Hora do Pesadelo, que com certeza é mais representativo para sua carreira.

Craven foi genial em colocar um dos melhores prazeres da família media americana, que é cruzar o país em seus moto-homes, em uma situação extremamente aterrorizante: o veiculo quebrado no meio de um deserto inóspito, aonde são espreitados por uma quadrilha de sádicos, como o próprio titulo nacional sugere, frutos, provavelmente, de mutações sofridas por constantes testes nucleares realizados nos arredores. O diretor usa uma câmera quase documental, com uma fotografia pigmentada que exalta em muito a sensação doentia que a trama passa: pessoas normais e até um bebê em meio a loucos que tem como intenção devora-las.

Claro que Quadrilha de Sádicos, pode soar mais light para públicos acostumados ao porn-torture atual. O terror demora um pouco a acontecer, criando um clima angustiante, e quando explode, é de maneira violenta e crua, focando muitas vezes o rosto dos atores bem de perto, para captar bem seus sofrimentos. Ainda ganhou um remake interessante em 2006, intitulado Viagem Maldita, mas que apesar das boas qualidades, não ficará marcado na historia do cinema como esse.

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Convenhamos, um filme que a principal motivação do protagonista é arrumar 10 mil dólares para implantar silicones, e esse personagem ainda é...

231 - Professora Sem Classe (Bad Teacher/Jake Kasdan/2011)

Convenhamos, um filme que a principal motivação do protagonista é arrumar 10 mil dólares para implantar silicones, e esse personagem ainda é uma professora de crianças, não da para ser levado muito a serio, mas de repente na mão de um cineasta mais habilidoso, sairia uma obra de mau gosto engraçada. Bom, não é o caso de Professora Sem Classe.

A obra do até experiente diretor Jake Kasdan, de A Vida é Dura e Orange County, é um filme tosco, mal conduzindo, com a intenção de fazer graça com situações politicamente incorretas, mas que não funcionam. Consegue se dispor de bons comediantes recentes, como Jason Segel e Lucy Punch, que parecem perdidos ou fora de sintonia em algumas cenas. A realização ainda tenta se segurar no carisma e sensualidade de Cameron Diaz, como uma professora de má conduta, que se preocupa apenas em arrumar um marido rico, que vê no professor substituto de família rica interpretado por Justin Timberlake a oportunidade, mas para isso terá que disputar com outra professora (Lucy Punch).

Professora Sem Classe se mostra como uma produção feita na medida para os cinemas de shoppings venderem muito sua excessivamente cara pipoca. Daqueles filmes que o expectador mais apurado sai com vergonha do cinema ou com vontade de esquecer que assistiu.

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Potiche – Esposa Troféu , a obra mais recente do prolífico diretor francês François Ozon , é um filme que faz uma homenagem escancarada à at...

230 - Potiche - Esposa Troféu (Potiche/François Ozon/2010)

Potiche – Esposa Troféu, a obra mais recente do prolífico diretor francês François Ozon, é um filme que faz uma homenagem escancarada à atriz Catherine Deneuve e sem duvida é uma delicia assistir à senhora Deneuve atuar, que ainda consegue sem manter em forma, mesmo com o inevitável avanço da idade. Os momentos com a atriz em cena são mágicos, principalmente a seqüência inicial, que dá o tom de fabula da historia, mostrando Suzanne Pujol (Catherine Deneuve) se exercitando no meio de uma floresta e vários animais aparecem para reverenciá-la, no melhor estilo desenho da Disney. As comparações com os clássicos Disney ficam por ai, e Potiche – Esposa Troféu mesmo com um tom leve, consegue ser uma obra feminista, desprendida e até certo ponto sexualizada.

Na trama, Suzanne Pujol é a esposa perfeita, mãe e avó afetuosa, preocupada com os afazeres do lar e descartada pelo marido (Fabrice Luchini) em situações de crise, como a que estão passando na fabrica de guarda-chuvas criada pelo pai dela. Suzanne não tem voz ativa, serve somente como um adereço para sua bela casa, um belo jarro, como o titulo sugere e sua filha coloca assim em certo momento. Um problema de saúde faz com que seu marido tenha que se ausentar do trabalho em meio a uma ferrenha greve dos funcionários. Na iminência da fabrica ser fechada, Suzanne assume o papel do marido e parece recolocar as coisas nos trilhos, com seu jeito terno, preocupado e liberal. A iniciativa da mulher acaba fazendo relembrar momentos da sua juventude e um romance com o agora deputado esquerdista Babin (Gerard Depardieu), mas o retorno do marido, possesso com as mudanças feitas pela esposa, acabam fazendo a vida de Suzanne tomar um outro rumo.

Potiche – Esposa Troféu, além de atuações divertidas de todo o elenco, que demonstram uma sintonia perfeita, apresenta um visual kitsch impressionante, meio brega, meio ultrapassado, mais luxuoso e cheio de cores que saltam os olhos e ajudam a conceber o clima nostálgico do filme. A trilha sonora, com canções pops francesas ainda criam momentos maravilhosos, como o do epílogo, quando Suzanne entoa uma canção que exalta como a vida pode ser bela. O filme tem algumas divertidas cenas de sexo protagonizadas por uma Suzanne mais nova, talvez até parodiando a própria Deneuve em A Bela da Tarde de Buñuel, caracterizando ainda mais o tom de homenagem a essa excelente e icônica atriz.

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Das recentes produções argentinas, esse XXY , dirigido por Lucia Puenzo , não chega a ser dos mais notáveis, mas mesmo assim se mostra uma o...

229 - XXY (Lucia Puenzo/2007)

Das recentes produções argentinas, esse XXY, dirigido por Lucia Puenzo, não chega a ser dos mais notáveis, mas mesmo assim se mostra uma obra interessante que aborda um tema tabu, poucas vezes visitado pelo cinema: o ser humano como hermafrodita, caso raro na nossa genética, mas que acontece e nas suas vezes acaba transformando o acometido em um ser confuso e discriminado, talvez até mais do que no homossexualismo, em que o individuo faz a opção, não sendo o caso em que o mesmo possui dois sexos.

A trama mostra a jovem Alex (Inés Efron), que aparentemente é uma menina, mas desde sempre seus pais sabem que ela é uma hermafrodita. Com a chegada da adolescência, ela começa a desenvolver instintos masculinos, que tentam ser refreados com remédios, que Alex reluta em tomar. Na verdade, o maior conflito da historia é a procura do verdadeiro sexo de Alex, que parece interessada em manter os dois, tanto que age como mulher, mas prefere fazer sexo como ativo em encontros sexuais, como o que tem com Juan (Guillermo Angelelli), filho de um cirurgião plástico que visita a família dela.

A diretora Lucia Puenzo constrói um filme com momentos delicados, principalmente os protagonizados pelo excelente ator Ricardo Darin, que faz o pai de Alex. Com Darin em cena, o filme cresce nas emoções, com destaque para uma cena em que ele visita uma transexual, uma mulher que trocou de sexo e vive uma vida simples e feliz com sua família. O filme emperra em mostrar o relacionamento de Alex e Juan, que no final parece ter pouca importância para a trama, ainda mais quando se propõe a formar um triangulo amoroso com outro rapaz, mas ainda assim, XXY é uma obra que tem o que dizer.

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