Terrence Malick é um diretor autoral que admiro, desde a sua primeira obra , Terra de Ninguém de 1973, costuma se apropriar da natureza c...

214 - A Árvore da Vida (The Tree of Life/Terrence Malick/2011)

Terrence Malick é um diretor autoral que admiro, desde a sua primeira obra, Terra de Ninguém de 1973, costuma se apropriar da natureza como fio condutor dos seus filmes, assim criando belas cenas, algumas como se fossem pinturas. O diretor, sem duvida, transforma seus projetos em produções deveras artísticas, imbuída de poesia, traçando momentos minimalistas que adquirem força impressionante, lembro muito bem das cenas tocantes de Martin Sheen e Sissy Spacek, em Terra de Ninguém, quando isolados do mundo em uma floresta, procuravam, mesmo que sem viés, o sentido e a intenção de suas vidas. Como conseqüência, Malick acaba fazendo cinema para quem gosta de cinema como arte, seus filmes não tem alívios cômicos, os personagens podem soar sisudos, nem sempre existe uma historia linear para ser acompanhada e o diretor gosta de usar a câmera, às vezes, de maneira quase documental. Então, suas realizações, assim como poesia e pintura, podem soar chatas para expectadores distraídos, como aconteceu na sala aonde assistia o filme, que com meia hora, algumas pessoas se levantaram e saíram.

Como toda arte diferenciada, A Árvore da Vida pode demorar a ser compreendido, mas vale muito se deixar levar pela viagem inicial que remonta o próprio nascimento da vida na terra, para depois adentrar a historia da família O´Brien, que tem no ator Brad Pitt o patriarca. Depois dessa exposição inicial de belos sons e imagens, a trama realmente começa, com a morte de um dos filhos do casal e invés de traçar um perfil psicológico da perda da família, a obra parte de um principio ate inquisidor contra Deus, enaltecido pela citação ao Livro de Jô logo no seu prólogo. Deus aqui é mostrado como uma força da natureza, até certo ponto como uma divindade maldosa, que deixa desgraças acontecerem e leva os personagens a questionamentos do tipo: “Se ele é mau, porque eu não posso ser?”. Claro, que a obra de Malick não tem a pretensão de julgar Deus, mas apresentar como o mesmo pode ter reflexos diferentes em cada pessoa e também como o ser humano pode ser incompleto e confuso, principalmente na perda de entes queridos ou até na criação dos próprios filhos, querendo incutir mandamentos ou doutrinas que podem marcar de maneira nociva ou traumatizar para sempre.

As atuações também são algo a parte, Malick extrai uma perfomance marcante de Brad Pitt, o seu Mr. O´Brien é talhado como um personagem digno, pai de família, mas que deseja que seus filhos não sejam íntegros em detrimento a sucesso profissional, que o mesmo não conseguiu atingir, aquilo vai demolindo O´Brien e passando sua frustração para a família, que vai do amor ao ódio em relação a ele e que acaba sendo regida pela esposa (a excelente Jéssica Chastain), uma mulher doce, que não entende muito da vida, mas que é uma mãe dedicada e afetuosa. Em certo ponto, os dois se antagonizam, não de uma maneira violenta, mas como se amassem e aquilo não estava sendo suficiente para salvar a família. Em um dos momentos fundamentais, o narrador cita que para ser ter a paz é preciso amor, afirmação deveras verdadeira. Muito do que é sentido em relação A Árvore da Vida vem dessa premissa, o amor como curador de todos os males, de todas as dores, mesmo que os envolvidos tenham que se conflitar ou ate contestar o seu Deus. Sean Penn faz uma participação pequena, mas importante, como o filho de O´Brien no futuro, que através dos seus olhos e lembranças a historia vai se formando.

Na minha opinião, posso até ser criticado, A Árvore da Vida é a melhor realização de Terrence Malick, a que mais me tocou, pelo drama familiar verdadeiro, com seqüências que imergem visualmente o expectador, levanta vários questionamento em relação ao comportamento humano e como Deus pode ser visto, além  de atestar a nossa insignificância perante o universo. Uma obra que me agradou bastante, mas tenho consciência que não é para todos os gostos, de repente nem para o gosto do seu próprio diretor, que perdeu anos montando o filme e em determinada seqüência é citado, mesmo que de maneira sutil, que mesmo com tanto trabalho, sempre pode ficar melhor. Um tanto perfeccionista esse Terrence Malick.

8 comentários:

Estou com muita vontade de ver. Pena que Natal é o último dos lugares onde se passam filmes assim... Paciência...

Kuki Bertolini disse...

Celo,eu tava com saudades do Brad Pitt e parece que ele resolveu aparecer em um baita filme,pra matar a saudades do melhor jeito possível.Ainda não pude assistir esse,mas algo me diz que toda a espera valerá a pena.Muito bom o teu texto,como sempre!!Baita abraço,Celo!! =D

Victor R disse...

Celo continua a jogar na minha cara as minhas pendências, hehehe. A árvore da Vida é um dos filmes que quero ver, e melhor ainda se for no cinema.

Unknown disse...

Amigos, não deixem de assistir esse filme, vale muito a pena, mesmo que não gostem.

Grande abraço a todos!

Hugo disse...

Estou curioso para conferir.

Abraço

Pois é Celo, dá para ver que vc curtiu a divagação de Malick. Diferentemente de vc, acho que Além da linha vermelha permanece como o melhor de sua filmografia. Acho que aqui ele dá umas escorregadas, entrega um filme cheio de grandes cenas e com alguns bons momentos, mas que não se sustenta mediante suas pretensões.
Abs

Unknown disse...

Reinaldo, sem dúvida, Malick foi um tanto pretensioso nesse projeto, mas a pretensão difere os homens dos meninos. Acho q Malick é um diretor um patamar acima, mesmo produzindo pouco. Abs

Maxwell Soares disse...

Acabei de ler, Celo. Tenho que vê-lo... Valeu.