Quando se conhece alguém com quem rola certa empatia ou admiração, acaba sendo inevitável que não idealizemos aquela pessoa, ate por ser uma novidade o convívio com ela e não a conhecermos verdadeiramente. É uma característica do ser humano criar motivações ou imaginar situações ideais nunca vividas ou que não serão mesmo. Eu mesmo vivo me pegando a personagens do passado que tiveram rumos diferentes na minha historia e fico pensando como seria se certa situação fosse diferente. É um exercício que costumo praticar com certo prazer, principalmente quando quero fugir de preocupações ou me alienar do meu verdadeiro mundo.
É isso que torna Amores Imaginários extremamente interessante, o joguete que o jovem e promissor diretor autoral, Xavier Dolan, faz com essa premissa de idealização que fazemos de pessoas que nos interessam, principalmente na parte romântica ou libidinosa. Quem nunca se pegou pensando como seria o beijo de determinada pessoa? Se te levaria as nuvens, ou se aquela pessoa te completaria do jeito que deseja, mesmo que a outra não te responda da maneira necessária. Podemos ate nos transformar no que interessa o nosso desejado, para assim chamar sua atenção, como faz Marie (Monia Chokri) em certo momento quando descobre que o seu amado é fã da atriz Audrey Hepburn. Nessa ciranda afetuosa, temos Marie e o gay Francis (o próprio Xavier Dolan), dois amigos de longa data e que furtivamente acabam se apaixonando pelo mesmo rapaz, Nicolas (Niels Schneider), um despreocupado bom vivant. Nicolas retribui a amizade, mas em nenhum momento revela interesse romântico ou desejo por qualquer um dos dois. Instantaneamente, vemos um triangulo amoroso mal formado ser instaurado e também uma disputa entre Marie e Francis, mesmo que sutil, mas que em certo momento vai às vias de fato.
Amores Imaginários é um filme que tem um tom bem realístico, mesmo que em alguns momentos soe poético ou utópico, ora, mas a vida também é feita de poesia e sonhos. O diretor Xavier Dolan explicita essa predileção em trazer os personagens para o mundo real, com inserções de depoimentos, que não tem nada a ver com a historia, de pessoas que tiveram frustrações amorosas por idealizarem demais, com destaque para uma menina nariguda de óculos, viciada em romances virtuais, que vive se dando mal. Uma obra também visualmente exultante, com cenas belas, uso exímio da câmera para cativar o olhar do expectador e ainda, diálogos perfeitamente atuais e atuações que não estereotipam seus personagens. Um filme com um frescor jovem delicioso, sem preocupação em ser politicamente correto, mas também sem polemizar. Em que outra obra recente você veria um dos protagonistas dizer que o cigarro lhe faz viver? Pois é, Xavier Dolan concebe isso com a maior naturalidade.
1 comentários:
Grande filme, tão sensível e realista, muito poético. Xavier Dolan explora muito bem os caminhos tortuosos e a idealização em cima de alguém que é objeto de tesão e amor.
Tão difícil, hoje, ter o retorno, o feedback, amar e ser retribuido, né? E o filme explora bem isso...
Gosto muito das atuações, direção eficiente mesmo, mas o visual e a fotografia são impactantes!
Nota 10 mesmo, perfeitinho!
Pequena obra-prima!
Acredito muito no talento de Dolan, já me surpreendeu bastante, é bem maduro, mais que vários cineastas "velhos" por aí.
Parabéns pelo texto e que bom que apreciou o filme, de fato!
Abraço
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