A primeira vez que assisti A Mosca foi ainda nos anos 80, em uma sessão de um finado cinema do meu bairro, que naquela época chegava a ficar meses exibindo o mesmo filme e esse foi um dos que ficou um bom tempo em cartaz. Na verdade, assisti a esse filme 3 dias seguidos, tamanho foi o impacto dele em mim e na minha turma. Divertíamos-nos bastante com as transformações do personagem principal vivido por um inspirado Jeff Goldblum e sequer sabia ou ligava para quem era David Cronenberg. Eram outros tempos, mas que com certeza ajudaram a formar esse cinéfilo que vos escreve.
Essa revisão de um dos maiores sucessos comerciais desse talentoso diretor veio motivada pela recente apreciação de Scanners, um filme mais seminal na trajetória de Cronenberg e que rende muita divisão entre os expectadores. A Mosca talvez seja um trabalho mais abrangente, até mesmo quem sente asco em relação ao filme concorda que essa realização é bem notável e poucos se lembram que ela é um remake de A Mosca da Cabeça Branca de 1958, tamanho foi à repercussão desse filme quando bateu nos cinemas. Não é para menos, até hoje ainda é impressionante como Cronenberg concebe a jornada do cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum) que acidentalmente funde seu DNA com o de uma mosca em um experimento que fazia sobre tele-transportes.
Assim como em outros filmes de monstros, apesar da repulsa que se pode ter em relação às mutações que Brundle sofre é difícil não sentir pena ou compaixão por ele. Até porque a intenção do cientista em seu projeto era das melhores possíveis. Existe ainda uma relação de amor entre Brundle e uma jornalista vivida por Geena Davis, que carrega a trama de alguns sentimentos, mesmo que sejam dissolvidos ao longo da mutação de Brundle em Brundle-mosca, como o mesmo se chama. Interessante também que em certo momento o cientista parece feliz com as mudanças, e o registro em vídeo para catalogá-las rende momentos bem nojentos, como quando ele explica como faz para se alimentar, vomitando uma enzima em cima dos alimentos para depois suga-los ou ainda guardando partes de seu corpo que vai se decompondo no armário do banheiro.
A trama é permeada de um sentimento de loucura, mas tudo embasado em outros sentimentos que seriam humanos, mesmo Brundle não sendo mais tão humano assim. A maquiagem usada pode parecer meio démodé em relação ao CG de hoje em dia, ainda assim é bem realista, a cena final em que o cientista vira literalmente uma mosca e derrete as mãos de um amigo da jornalista é marcante, algo visto poucas vezes no cinema, tamanha a expressão que aquele monstro acaba tendo, mesmo totalmente transformado, de maneira impressionante, Cronenberg consegue arrancar expressões humanas dos olhos daquela literal mosca gigante. A Mosca pode ainda não ser um Cronenberg amadurecido, mas mesmo assim é muito bom.
19 comentários:
Lembro-me que assisti ao filme original "A Mosca da Cabeça Branca" em uma sessão lá pela década de 90 numa sessão que a TV bandeirantes passava com a apresentação do Zé do Caixão, filme muito bom também, e o final é ótimo, vale tb conhecer esse filme.
Gosto muito desse filme. Vi até a continuação que infelizemente não fez o mesmo sucesso, já que não tinha o 'dedo' de David Cronenberg
Acho pontual a sua revisista a Cronenberg às vésperas de A dangerous method. Essa fase dele nos anos 80 é mesmo definidora. A mosca é um filme, no mínimo, impactante.
Abs
Concordo plenamente. Cronenberg ainda estava dando os primeiros passos, mas já sabia fazer um filme com maestria. A MOSCA é ótimo!
O Falcão Maltês
Esse faz tempo que vi e ainda me lembro da sensação de angústia com aquela gosma toda, hehe. Teria que rever, quem sabe um dia tenha coragem.
bjs
Caramba, Celo... esse faz tantoooo tempo que eu vi!! Eu ainda era uma molecaaa!!! hahahaha... super clássico!
As cenas são repulsivas, mas se inserem perfeitamente na trama.
Cronenberg pegou clássico B que trabalhava a sugestão e transformou num terror de primeira.
Abraço
Eu era um garoto quando vi esse filme. Na época, nem sabia quem era David Cronemberg e fiquei impressionado. Poucas vezes vi um filme tão nojento, mas bom na mesma medida! Abraço!
Terror não é nem de longe meu gênero favorito, mas este filme sempre despertou minha curiosidade, tenho muita vontade de vê-lo... Ótima resenha, me motivou a procurá-lo!
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http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/11/pi.html
Elson, ei! Lembro dessa sessões, apresentadas pelo glorioso Zé melhor ainda!;
Gilberto, não fez muito sucesso mesmo, mas até curto a continuação, claro q é bem inferior, mas tem mais aparato;
Reinaldo, to salivando por esse Cronenberg novo, ainda não tinha assistido o direto esse ano, mas é viciante seus trabalhos, da vontade de conferir tds!
Antonio, assino embaixo meu caro!;
Amanda, é angustiante mesmo, mas vale uma revisão;
JOicy, minha cara, é classicão mesmo, q tb vi ainda moleque, nostalgia das boas..heheh.
Hugo, se inserem mesmo, o clima é tenso, mas curioso demais, gosto do Mosca da Cabeça Branca, mas acho esse melhor;
Fabio, o tom de asco é o q chama mais atenção nesse, mas é louvavel como é bem feito;
J. Bruno, cara, veja esse! Vale uma olhada, só não aconselho depois do almoço...ehehe
Abs a Tds!
Acho que ainda continua no meu top 5 Cronenberg. Considero mais um filme de doença e de amor do que um filme de horror e sci-fi, mas é tudo isso misturado e muito mais. hehe
Gostei muito de ler esse texto, tá muito bem sintetizado essa obra de certa forma desconcertante de Cronenberg. Lembro que na época em que assisti a primeia vez (uns 12 ano atrás)fiquei chocado com esse filme. Não só pelo roteiro em si, mas pelas transmutações e pela quantidade exarcebada de nojeira em cenas. Foi bem interessante você tocar nesse ponto do CGI, eu ainda prefiro os efeitos visuais de antigamente. Que como você falou parecem demodês, mas ainda sim eram a maneira mais correta de se fazer horror. E a plasticidade prática das cenas eram coisas quase que pálpaveis, soavam mais reais e cruas. Hoje em dia a gente sabe que determinado objeto ou pessoa não está em cena devido ao CG, tornando tudo muito falso. Teu blog é o único que tenho lido ultimamente, pois de vários é o único que apresenta uma proposta do qual me identifico muito. Parabéns! Apareça sempre pelo nosso blog!
http://thecinefileblog.blogspot.com/
abração Laércio!
Um clássico grotesco. Se bobear acaba sendo o melhor filme de Cronenberg. É sem dúvuda o melhor de Jeff Goldblum. O diretor tem filmes masi sérios recentemente com Viggo Mortensen, mas acho que "A Mosca" é um filme superior que mescla ficção-científica com horror trash.
Abs.
Eu era garoto quando assisti esse filme. Fiquei impressionado com tudo. Principalmente com as cenas de malabarismo,tipo esse atletas de ginástica, que ele já sob o efeito da mutação desenvolve. Olhava tudo aquilo e ficava impressionado. A cena em que ele põe várias colheres de açúcar no seu café sem perceber. Como se diz, meu caro Celo, é o Bicho. Um abraço...
Ailton, tem sentido essa comparação mesmo;
Laercio, vlw pelo elogios e pela preferencia...heheh...tb to sempre visitando teu blog, q apresenta muito conteudo de qualidade, parceria boa!;
Rodrigo, senão é o melhor, esta entre eles;
Maxwell, essas cenas são otimas e me impressionavam tb, é um filme para lá de interessante;
Abs a Tds e obrigado pela interação!
Oi Celo, cheguei até aqui por indicação da minha amiga Joicy, e adorei seus posts, em especial esse sobre A Mosca, como também sou fã de filmes e sou fã dos Simpsons não pude deixar de indicar um episódio em que fazem referência aos dois filmes, A Mosca da cabeça branca e A Mosca. Muito bacana é o episódio de Halloween "A casa da árvore do terror VII" o episódio "The Fly vs The Fly".
Vou continuar aparecendo por aqui, adorei.
Carol, seja bem vinda ao espaço! Fico feliz com o blog sendo lido. Apareça sempre e deixe suas impressões. Esse episodio dos simpsons eu conheço sim, um dos melhores, otimo..hhehe...Abs!
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