Uma das tradições que tenho na vida desde que me lembro como gente é assistir Cantando na Chuva nos finais de ano, principalmente em sua virada, lá pelas 3:00 da manhã do primeiro dia do ano vindouro. Lembro de ainda criança abandonar festas para poder ir para casa sozinho ou às vezes acompanhado e conferir essa preciosidade que foi costumais ser apresentado pela Rede Globo durante alguns bons reveillons. Nossa, são tantas lembranças e emoções (parafraseando o Rei Roberto Carlos) quando volto a esses tempos e momentos que tenho que me conter porque a emoção flui automaticamente. Assistia com amigos, irmãs, tios, mas a pessoa que sempre me convidava ou lembrava da exibição era minha saudosa Avó, aquela senhora simples delirava com o sapateado de um sujeito bonitão e com pinta de galã chamado Gene Kelly.
Gene Kelly, senão fosse esse moço e minha querida avó talvez eu nem fosse tão fã de cinema. Em mais lembranças, recordo que nas primeiras apreciações pouco entendia da história, que na minha mente infantil parecia um tanto confusa (e que na verdade é deliciosamente simples desde o primeiro frame), mas sinceramente, nem ligava. A sensação de alegria e felicidade que Cantando na Chuva me passava era mais forte que qualquer historia, roteiro ou atuação. Ao menor sinal das notas de Make ‘Em Laugh ou Good Morning já tinha vontade de sair imitando Kelly pela sala e tenho que confessar que mesmo com 34 anos ainda tenho esse desejo quando vejo esse homem de pés rápidos e carisma inigualável saltar ou fazer piruetas pela tela. Quando Kelly dança, a vida fica mais fácil. Uma tempestade vira uma festa, aonde quem se sente celebrado é o espectador com tamanha vivacidade de artistas completos e mágicos como Gene Kelly, Donald O´Connor (mito) e a linda Debbie Reynolds.
Para finalizar essa maratona cinéfila pessoal, revi Cantando na Chuva pela enésima vez no dia 30 de Dezembro, ao lado da minha esposa que teve que me conter em momentos mais exaltados. Minha vontade era conferir na madrugada de 31 para 1º de Janeiro e assim homenagear minha querida e saudosíssima avó, mas o envolvimento em uma reunião de amigos para o reveillon aqui em casa me deixou na dúvida se realmente o conseguiria. Já viu, nê? Uma cervejinha aqui, um espumante ali e a única coisa que provavelmente verei é a cama ao final de tudo, mas não deixou de ser minha homenagem a essa especial mulher e também gostaria de com essa obra-prima saudar aos que freqüentaram meu espaço e me aturaram durante esse ano de 2011. Desejo a TODOS um 2012 cheio de realizações e muita Saúde (que é o que realmente importa). Volto ainda para mais uma postagem explanativa. Abraços e Beijos a todos e Cantem na Chuva se necessário for!
Bom, 2011 foi um ano bem especial para esse espectador voraz, que na intenção de homenagear uma das coisas que mais o motiva e deixa feliz, se travestiu de escritor e criou uma louca maratona cinéfila, aonde deveria assistir e resenhar 365 filmes em um ano. Foram inúmeros apreciados, alguns que ficarão guardados para sempre na memória, e agora chegou à hora de listar os preferidos desse ano marcante para esse blogueiro. O critério deveria ser apenas os filmes lançados em circuito comercial no Brasil, assim algumas obras assistidas no final do ano e que facilmente figurariam nessa lista como Histórias Cruzadas, Precisamos falar sobre Kevin e 50% não entraram, porque tem previsão para estréia em 2012, mas também funcionam já como um presságio para os melhores do ano que vem.
Porém, dois filmes que entraram no Top 20 final não foram exibidos em circuito comercial no Brasil e pelo visto também não tem uma data exata para serem lançados ou talvez nem sejam (apesar de terem sidos exibidos em festivais, como o do RJ). As duas maravilhas em questão são verdadeiras obras-primas eentão como uma espécie de bravata quase que solitária e inútil contra os executivos do circuito exibidor dos cinemas brasileiros que colocam essas realizações maravilhosas de lado em detrimento a lotar salas com produções corriqueiras dubladas ou explorando o filão do advento de novas tecnologias, esses filmes foram escolhidos, não pela situação apresentada, mas por se superior à maioria em questão.
Essa vai ser a penúltima postagem desse blog, ainda tem o filme 365 que não será um de 2011 e a última postagem que renderá as considerações finais da maratona e a nova direção que vai ser tomada. Sem mais “blá, blá, blá” vamos aos Melhores Filmes de 2011 segundo o Um Ano em 365 Filmes:
20º - Lixo Extraordinário (Wasteland/Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim)
19º - O Poder e a Lei (The Lincoln Lawyer/Brad Furman)
18º - Gigantes de Aço (Real Steel/Shawn Levy)
17º - Planeta dos Macacos: A Origem (Rise os the Planet of the Apes/Rupert Wyatt)
16º - Singularidades de uma Rapariga Loura (Manoel de Oliveira)
Somente pelo talentoso elenco formado por atores de naipe como Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti (sensacional),Marisa Tomei, Jeffrey Whrigth, o próprio George Clooney que também dirige e os mais jovens e não menos talentosos Evan Rachel Wood e Ryan Gosling já valeria uma conferida em Tudo Pelo Poder, à quarta incurssão de Clooney na batuta de uma produção e novamente trazendo uma história politizada bem construída, focada nos bastidores de uma campanha política a presidência, mas com um bem vindo clima de thriller que torna essa sua realização mais do que interessante.
O protagonista da historia é Stephen Meyers (Ryan Gosling), um jovem idealista assessor da campanha do governador Mike Norris (George Clooney), que vem a ser também um dos fortes candidatos a assumir a presidência dos EUA. A trama se foca em uma das eleições preliminares em um estado aonde Norris tem poucas chances, mas que com o jogo de bastidores armado por assessores de ambas as partes, formado por muita intriga e segredos, fazem com que tudo possa mudar apenas por um detalhe deixado de lado ou uma revelação arrasadora, levando o espectador a sentir o quão sujo e calculista pode ser o mundo político, aonde a lei do mais forte manda e o que era muito importante um momento, pode ser totalmente descartável 2 minutos depois dependendo da informação que cada um disponha.
Clooney compõe esse contexto malicioso com muita segurança, sem titubear na hora de transcender o ritmo de drama serio que a obra apresenta no inicio para assim nos envolver com uma pegada de suspense psicológico que mesmo mostrando mazelas dos políticos, da politicagem e até da mídia, que também não deixa de influenciar e manipular a seu favor, sua obra se sai muito bem tanto quanto uma critica severa a uma sociedade deveras hipócrita ou mesmo um inteligente entretenimento de muito boa qualidade.
A produção inglesa baseada no aclamado livro Precisamos Falar Sobre o Kevin é um filme que foi bem recebido em festivais, como o de Cannes, a qual foi nomeado para a Palma de Ouro e também tem recebido muitas indicações para premiações como o Globo de Ouro e uma boa parte da critica e dos cinéfilos que o assistiram esperam que seja lembrado para o Oscar. São notórios os motivos pelo qual o filme tem sido louvado, pois mostrar uma relação familiar, com foco na mãe e no filho, de maneira tão crua e cruel é para poucos e a diretora escocesa Lynne Ramsay se sai bem no tratamento da tragédia que envolve esses conturbados e perturbados personagens.
A narração entrecortada por passagens em linhas temporais diferentes pode demorar um pouco a fazer o espectador se conectar com a obra, porque em certos momentos elas confundem, mas podem ter sido armadas desse jeito para gerar esse embaralhamento, até porque Ramsay vai liberando as revelações aos poucos, trazendo cenas que mostram o desfecho, para depois mostrar o que aconteceu. Como Precisamos Falar Sobre o Kevin é um filme recente e que deve estrear em circuito comercial no Brasil ainda em Janeiro de 2012, nem vale contar muito de sua trama que mostra o relacionamento deveras difícil entre Eva (Tilda Swinton), a mãe perdida em suas próprias convicções e no trato do filho Kevin (Ezra Miller na fase adolescente), um jovem que parece sofrer algum desvio de caráter ou somente seja carente de amor materno, mas que faz o jovem se tornar uma bomba ambulante, prestes a explodir a qualquer momento.
A opção por não delinear muito os aspectos de Kevin é interessante, mostrando apenas passagens soltas de sua infância e adolescência, porque cabe ao público decifrar o personagem, que ainda parecer guardar muitas semelhanças com a mãe, mesmo que ela não perceba ou faça vista grossa para a situação. A verdade é que o rapaz não se ajusta ao mundo como ele é, parecendo um tanto deslocado para qualquer ponto de vista e somente quando confronta ou afronta Eva é que podemos perceber o quanto ele sofre ou por um outro lado mesmo achar que o rapaz é apenas um sociopata em potencial. A mãe mesmo percebendo o quanto Kevin parece estranho, ainda assim tenta trata-lo como se nada acontecesse, como se tudo pudesse passar em um passe de mágica, mas sabemos que não é assim e ela também, mas é o filho dela e sabe-se que uma mãe mesmo sabendo o quanto seu filho pode ser repulsivo, no seu mais intimo ela nunca deixa de amá-lo. Precisamos Falar Sobre o Kevin é um filme que precisa ser visto e discutido, independente de premiações ou atuações, uma obra que dialoga muito bem sobre esse cotidiano introspectivo.
Um filme precisa de uma trama sensacional ou uma história fascinante para ser considerado uma grande realização? O nosso saudoso Glauber Rocha já dizia que o cinema é áudio e visual, não precisa de história ou a mesma seria mero detalhe na concepção desse polêmico diretor. Bom, também sou adepto daqueles que acreditam que o cinema pode ser grande e interessante apenas usando de imagens e sons, como nessa maravilhosa produção européia que é O Cavalo de Turim. Um filme que emociona pelo detalhismo de suas cenas e tem o mérito de fazer isso em uma representação que é pouco emocional pelo ponto de vista humano e ainda parecendo que apenas aquele sofrido animal realmente tem sentimentos feridos.
No começo do filme temos uma explanação em off sobre um cavalo que o filósofo alemão Friederich Nietzsche salvou de um linchamento em 1889, tendo ainda adquirido o animal para si, o levando para Turim. Logo depois o mesmo narrador nós conta sobre a loucura que se apossou de Nietzche e que por ter que ser cuidado pelas irmãs, o filósofo teve que se desfazer do cavalo. Então daí parte o ponto de vista da parca trama: O que teria acontecido ao cavalo de Nietzche? Ao final dessa indagadora explanação inicial, o espectador é levado a um longo plano seqüência sensacional de um senhor conhecido como Olsdorfer (János Derzsi), que parece ser agora o detentor do animal, conduzindo o cavalo por terrenos inóspitos, envolvidos por uma espessa névoa e um vento cortante. Alías, o que é a sonoplastia desse filme? Diria que rara, fazendo o próprio vento surgir com um dos principais personagens do filme.
O cinema do diretor húngaro Béla Tarr se assemelha em alguns aspectos com o do alemão Michael Haneke, com longos enquadramentos estáticos, dando tempo ao espectador explorar cada canto da cena, como se fosse um quadro. Na verdade, todo O Cavalo de Turim parece uma pintura em movimento, daquelas sufocantes, com momentos detalhadamente captados pela câmera de Tarr, que sem pressa constrói o cotidiano monótono daquele pai e filha (Erika Bók) vivendo em um lugar pouco povoado, isolados ainda e com uma relação quase inexistente de afeição mútua, o que ainda rende pouquíssimos diálogos e mesmo quando um senhor surge na casa para lhes pedir bebida, causando uma única cena de verborragia exacerbada, o diretor parece colocar apenas para afirmar a sua intenção de mostrar que muitas vezes as palavras não querem dizer nada ou usar muito bem aquele clichê de que uma imagem vale por mil delas.
Ainda tocado pela forma como Tarr comete seu filme, que cresce na consciência quando relembrado, e mesmo sendo uma realização longa (150 minutos) e que ainda parece não acontecer nada ou muito pouco, em nenhum momento O Cavalo de Turim se mostra chato ou maçante, pelo contrário. Repleto de momentos lindamente melancólicos em que esse brilhante diretor constrói usando apenas o vento e nos brindando ainda com outros planos seqüências impressionantes, como quando a dupla fica sem água em casa e precisa sair para arrumar alguma, é inevitável ao final do longa afirmarmos que estamos diante de uma obra-prima.
Bom, a maratona desse cinéfilo que vos escreve está chegando ao fim, foram muitos filmes assistidos esse ano e resenhados nesse blog. Então, nada mais justo do que trazer alguns que ganharam destaque, aqui nesse caso negativo, e antecipando a lista que será postada em breve com os melhores filmes de 2011, venho lhes trazer um aquecimento com as produções (independente das qualidades técnicas) que de uma maneira ou de outra fizeram esse espectador sentir vergonha do que estava assistinho. Sem mais delongas, os 10 escolhidos são:
10º - O Turista (The Tourist/Florian Henckel Von Donnersmarck)
9 º - Conan, O Bárbaro (Conan The Barbarian/Marcus Nispel)
8º - Eu Queria Ter a Sua Vida (The Change Up/David Dobkin)
7º - Sucker Punch, Mundo Surreal (Sucker Punck/Zack Snyder)
6º - Dylan Dog e as Criaturas da Noite (Dylan Dog: Dead of Night/Kevin Munroe)
5º - As Viagens de Gulliver (Gulliver´s Travel/Rob Letterman)
- Menções Desonrosas: Doce Vingança (I Spit on Your Grave/Steve R. Monroe), Padre (Priest/Scott Charles Stewart), Transformers: O Lado Oculto da Lua (Transformers: Dark of the Moon/Michael Bay) e Capitães da Areia (Cecília Amado).
Concordem, discordem, Comentem! Façam esse blogueiro feliz.
Ethan Hunt (Tom Cruise) é convocado dessa vez para confrontar um terrorista (Michael Nyqvist) que tem a intenção de começar uma guerra nuclear global e com o protocolo fantasma instaurado, que extingue a IMF, somente Hunt e um pequeno grupo de agentes (Simon Pegg, Jeremy Renner e Paula Patton) podem salvar o mundo. Bom, nem é preciso uma historia muito plausível para que Hollywood realize mais uma filme dessa franquia de sucesso, até porque sabemos que veremos pela frente uma obra repleta de ação, com momentos vertiginosos de tirar o fôlego e muita, mas muita correria. Um prato cheio para uma sessão despretensiosa regada a pipoca e refrigerante, e nesse intento dá para dizer que o diretor estreante em live-action Brad Bird se sai bem.
Tudo bem que a ação desenfreada mascara um bocado de um roteiro frouxo, que mostra um vilão pouco convincente e confuso em seus próprios propósitos, mas que por outro lado ora trás uma comicidade que cai bem na proposta de filme-pipoca dessa continuação ora mostra uma equipe que talvez seja a que tenha mais química entre os 4 filmes da cine - serie. Bird que até então somente tinha dirigido animações, comete cenas impressionantes, que figuram fácil entre as mais nervosas da serie, como uma em que Ethan escala um arranha-céu em Dubai ou na seqüência em que o personagem de Jeremy Renner fica hasteado por uma roupa imantada sobre uma hélice enorme quando o grupo invade um hotel na Índia para roubar uma seqüência de números de um magnata das informações.
Não dá para dizer que Missão Impossível: Protocolo Fantasma seja o melhor filme da franquia e ainda tenho que lamentar que o tom mais serio, que achei muito bem-vindo, do terceiro episodio tenha saído em detrimento a concepção de um filme mais “aventurão”, voltado para um público mais abrangente, o que também não é nenhum pecado, mas ao final da sessão, mesmo gostando e se preocupando pouco com as suas imperfeições, percebe-se que o longa não empolga como deveria.
Rachel, Stephan e David são três agentes da Mossad isralense que são enviados para a Alemanha Oriental em 1965, em plena Guerra fria, com a missão de seqüestrar o médico criminoso nazista conhecido como Dieter Vogel (Jesper Christensen) ou mais famoso pela alcunha de o “Cirurgião de Birkenau” que recebeu pelos inúmeros experimentos tenebrosos que fez com o povo Judeu durante a guerra. A dita missão não sai como o esperado e os envolvidos se vêem presos a um segredo que os atormentará a vida toda.
Desse ponto que a obra do experiente diretor John Madden, de filmes como Shakespeare Apaixonado e O Capitão Corelli, começa a desfiar a misteriosa conspiração que envolve os três agentes, alternando os acontecimentos do passado, mostrando o cativeiro em que mantiveram Vogel, aonde Rachel, Stephan e David são representados respectivamente por Jéssica Chastain, Marton Csókas e Sam Worthington e o presente que se situa no ano de 1997 aonde são encarnados também respectivamente por Hellen Mirren, Tom Wilkinson e Ciarán Hinds.
Madden dirige esse roteiro escrito por Matthew Vaugh, de Kick Ass, e consegue criar certo interesse do espectador com seu filme, principalmente nas cenas passadas em 1965, em que Jéssica Chastain amostra porque vem sendo aclamada como uma das melhores atrizes do ano de 2011. A moça cria uma Rachel tão forte que a concepção da oscarizada Mirren para o mesmo personagem chega quase a não convencer, mas essa não é a principal imperfeição de No Limite da Mentira. O filme tem problemas de ritmo que incomodam, principalmente quando a historia surge em 1997. Tanto que essa vertente da trama parece diminuída, talvez tenha tido cortes na edição final, porque faz o filme parecer pouco empolgante, principalmente quando as seqüências que são para gerar clímax inexplicavelmente são entrecortadas por outros flashbacks soltos que parecem sem sentido para a narrativa, fazendo ainda parecer um bocado de enrolação ou mesmo algum tipo de capricho do diretor.
Pelo conjunto final, No Limite da Mentira não chega a ser decepcionante ou ruim, fica mais perto de um razoável ou até bom, mas com gosto de que poderia ser bem melhor, até pelos nomes talentosos envolvidos. Madden apesar de mais experiência com obras dramáticas comete boas seqüências de ação e tensão, algumas outras emotivas com certa propriedade, reafirmando principalmente quando Chastain surge em cena nessa obra que em certos momentos também elucida uma possível direção de atores frouxa e que ainda faltou engendrar melhor as linhas temporais, o que afasta ou pode fazer o espectador ver a realização com certo distanciamento e que inevitavelmente faz desse filme algo que provavelmente logo será esquecido.
Um filme em que um dos plots principais é um campeonato de lutas MMA que envolve a rivalidade entre dois irmãos normalmente não deve ser levado muito a serio, até porque essa não é a primeira obra e nem vai ser a última a visitar essa temática. Porém, Guerreiro passa longe de ser um filme apenas de lutas e treinamentos, diria que está mais para O Vencedor de 2010 do que para um genérico do Grande Dragão Branco com ex-astro belga Van Damme. Até porque o esporádico diretor Gavin O´Connor trás um retrato contundente e visceral de uma família de lutadores repleta de conflitos, amarguras e tristezas desde sempre que procuram na violência da luta uma maneira de se reencontrarem e libertarem suas frustrações.
Tommy Conlon (Tom Hardy) reaparece do nada na casa do pai que não vê há 14 anos, Paddy (Nick Nolte), um ex-alcoolatra que vive tentando se redimir com seu outro filho, Brendan (Joel Edgerton). A intenção de Tommy, que carrega certa áurea misteriosa, é que Paddy o treine para um campeonato de MMA chamado Sparta, que vai render 5 milhões ao campeão. Brendan, professor de física em uma escola fundamental, após ser suspenso das suas atividades por conta de uma luta e com problemas financeiros em casa, acaba voltando ao ringue, do qual viveu por um bom tempo como lutador do UFC. Por acaso, Brendan acaba sendo inscrito no mesmo torneio. Então, o que torna Guerreiro destacado na filmografia que envolve filmes de lutadores é como O´Connor trata os aspectos de cada personagem. Não vemos treinamentos edificantes, nem personagens heróicos, os protagonistas são bem humanos, cheios de defeitos, principalmente o Paddy de Nick Nolte, que entrega uma atuação sensacional, como o pai que destroçou aquela família com seu vicio.
Na verdade, Guerreiro é um filme que trás atuações sublimes da trinca principal, Joel Edgerton concebe com qualidade o sujeito mediano que se supera nas adversidades, é dele uma das lutas mais emocionantes quando enfrenta um oponente russo, mas Tom Hardy nos brinda com um momento icônico em sua carreira, desde o magnífico Bronson de Refn feito em 2008 tenho um olhar especial para esse ator. O Tommy de Hardy é daqueles personagens reprováveis que cativam o público de uma maneira tão forte que fica difícil não torcer por ele ou se emocionar com sua jornada. Um homem marcado por tragédias, de poucas falas, mas que com seu olhar selvagem consegue transmitir boa parte de suas emoções contidas que descarrega de forma brutal contras seus adversários.
No meio de todo esse crível conflito familiar, pontuado por momentos brutalizados, mas mesmo assim tocantes, é claro que a realização de O´Connor tem sua ação, com lutas bem coreografadas e filmadas, mostrando toda a violência que o MMA pode proporcionar e que atrai um séqüito de fãs que afirmam a projeção de que o esporte provavelmente vai dominar o gosto do público, superando até outros esportes mais populares. A edição que acelera e desacelera o filme nos momentos certos é mais um dos trunfos que o diretor conseguiu trazer para mesclar com competência drama e ação e assim fazer de Guerreiro um dos melhores filmes no ano de 2011.
George Bailey (James Stewart) é um sujeito inteligente e talentoso, que poderia muito bem alcançar sucesso fora de sua cidade, mas o apego e respeito ao negócio do pai, um banco de empréstimos para pessoas pobres, faz com que o homem desista de tudo em prol do bem estar daquelas pessoas. O altruísmo de George faz com que deixe sua própria vida em segundo plano e assim vemos um de seus melhores amigos ascender financeiramente e seu irmão fazer carreira como militar, sendo até condecorado pelo presidente americano. Tanto uma como outra poderia fácil ser a verdade de George, mas mesmo sempre se questionando, ele parece feliz na sua vida simplória. Apesar das dificuldades, George tem o que muitos almejam, uma esposa que ama e que o ama também, a paixão de sua vida, e quatro filhos que são a razão de sua existência. Uma bela vida dentro de sua simplicidade.
O que George não esperava e não contava é que o sumiço de uma importante quantia em dinheiro do Banco pudesse fazer com que o homem se rendesse as investidas de um mal intencionado senhor que explora as pessoas a quem ele procura ajudar e ainda pior, a perda daquela quantia, faria com que George ficasse na miséria com sua família. Aquilo parecia um verdadeiro terror na vida daquele valoroso homem, não pelo dinheiro, mas pelo bem-estar de quem tanto ama. A terrível noticia vem na véspera de Natal, momento que deveria ser de comemorações. Após uma briga com a esposa, bêbado e desorientado, George sai sem destino pela cidade e se depara com um parapeito de uma ponte, no seu desespero ele pensa seriamente em um suicídio, mas uma pessoa realmente boa não merece uma segunda chance? Será que George tem alguém que olha de maneira especial por ele? Nada mais justo para quem sempre cuidou dos seus próximos... Sim, George tem alguém que guarda por ele, alguém bem especial lá em cima, que preocupado com o destino daquele ser diferenciado, lhe envia um anjo sem asas para mostrar ao abalado homem como sua vida é importante e única.
A Felicidade não se Compra é um filme que fala por si só, resenhado ao maximo, fixo na lista dos melhores filmes de todos os tempos e categórico quando se fala de uma obra cinematográfica que evoque com qualidade o verdadeiro espírito natalino. Interessante também que pode-se dizer que o filme do ítalo-americano Frank Capra é uma produção de natal, mas o que realmente vemos é uma realização que transcende sua própria temática e que prima por uma narrativa, podendo-se dizer até modernosa, remontando aqueles próprios sofridos anos pelo povo americano, abatido e combalido pela grande depressão, muitos sem perspectiva, mas que não perdiam a fé em tempos melhores, uma felicidade que os espreitasse em alguma esquina. Tudo é representado de uma maneira honrosa, mesclando comicidade e dramaticidade na medida certa e emocionando sem apelar, a atuação mágica de James Stewart trás o “algo mais” que um grande filme precisa para se destacar.
Hoje em dia, um filme como A Felicidade não se Compra pode soar bobo ou ingênuo, até porque a própria humanidade parece ter perdido boa parte da ingenuidade e romantismo representado outrora, mas há de se destacar que Capra cometeu um filme marcante dentro do próprio universo do cinema, que até hoje a temática é revisitada e que provavelmente criou um bocado do que pode ser chamado de clichê. Essa é a minha dica de Natal, gostaria que o texto tivesse saído mais emocional, porque esse é um filme que aprecio muito e que ainda me emociona com seu epílogo tocante e que saúda a verdadeira essência do ser humano. Para quem não assistiu, os dias 24 e 25 de dezembro são datas oportunas para conhecer essa maravilha e para quem já conhece, nunca é demais rever essa obra-prima. Desde já saúdo os leitores desse humilde blog com um Feliz Natal e que possam ter a verdadeira felicidade em suas vidas, aquela felicidade que não se compra.
Dono de uma extensa filmografia, com cerca de 60 filmes no currículo, o diretor português Manoel de Oliveira mesmo no alto de seus 103 anos parece ainda fazer cinema com amor, visível nessa sua ultima obra adaptada de um conto do escritor Eça de Queiroz intitulada Singularidades de uma Rapariga Loura. Existe um lirismo presente, com cenas esmeradas em detalhes. Evidente que Oliveira concebe um filme menor dentro da sua própria carreira, que detêm algumas preciosidades como Um Filme Falado de 2003, mas mesmo sendo minimalista, ainda assim é envolvente e delicioso em sua apreciação rápida de pouco mais de uma hora.
A historia parte de um ponto de vista de um romance a primeira vista contado pelo jovem Macário (Ricardo Trepa), um empregado administrativo de uma loja de departamentos, e a bela Luísa (Catarina Wallenstein), uma jovem que passa boa parte de seu tempo a se abanar com um formoso leque chinês na janela de sua casa, que vem a dar direto na sala de Macário e por onde os dois se apaixonam, mesmo que sem trocar uma única palavra. A partir do momento em que se encontram, Macário promete casamento à moça e como seu tio e patrão é contra a união, dificulta a parte financeira do rapaz que precisa se virar para conseguir dinheiro para a cerimônia e os preparativos.
Singularidades de uma Rapariga Loura ainda é um filme que o humor surge de maneira sarcástica, mas mesmo assim polida. Alias, é um filme francamente educado na representação de seus personagens, até mesmo nos momentos conturbados, rendendo um anacronismo para como eram delineadas as relações antigamente, principalmente na Portugal do lendário Oliveira.
O diretor Francis Ford Coppolla impressionou o mundo do cinema na década de 70 com obras-primas máximas como O Poderoso Chefão I e II, A Conversação e Apocalypse Now, tornando indiscutível a sua maneira de talhar seus personagens e domínio amplo de sua arte na narrativa. Na década de 80, quando tudo indicava que Coppolla miraria superproduções que inevitavelmente lhe levariam ao panteão dos mestres do entretenimento da época como Spielberg e George Lucas, o homem contrariou a todos se voltando para produções mais intimistas e concebeu outra importante seqüência, dessa vez de pequenas obras-primas, começando por Vidas sem Rumo, passando pelo inesquecível O Selvagem da Motocicleta e culminando no tão bem realizado quanto Peggy Sue, Seu Passado a Espera.
Se esses três últimos filmes supracitados tivessem sido filmados nos dias de hoje, provavelmente alguém lhes enquadraria em algum tipo de trilogia, algo como a incompreensão na falta de perspectiva na juventude, porque é evidente que as respectivas obras dialogam entre si. Claro que em Peggy Sue temos um tom mais desprendido, alternando com comicidade, porém romântico e terno, diferente da rebeldia introspectiva dos citados Vidas sem Rumo e O Selvagem da Motocicleta, mas aqui a protagonista está tão perdida quantos os deliquentes retratados outrora. Então nesse em questão, Coppola de uma maneira toda especial trás uma obra que se apóia em uma viagem no tempo para mostrar os verdadeiros valores a serem respeitados, dialogando sobre amor, família, envelhecimento e morte, que também vem a ser os temas mais recorrentes da carreira desse magnífico cineasta.
A história logo começa com Peggy Sue (Kathleen Turner) voltando para sua época de colegial quando tem um colapso nervoso durante uma festa para comemorar a antiga turma. De volta aos anos 60, mas com a experiência de uma mulher madura, Peggy tenta reavaliar suas escolhas e aproveitar tudo que perdeu ou tinha medo de fazer quando passou por ali a primeira vez. Desde seu romance com Charlie (Nicolas Cage eficiente), o rapaz mais popular do colégio, que culminou em um casamento fracassado, até aproveitar uma noite intensa de sexo com um rapaz obscuro que desprezava na escola ou o emocionado reencontro com seus avôs, que rende umas das mais bonitas seqüências do filme. O mais notável é como Coppola revisita aquela época inocente (que é sua favorita) sem parafernálias, sem ficções cientificas, apenas usando os próprios personagens envelhecidos como jovens, em um tom amargo e nostálgico de álbum velho de fotografias, como se quisesse mostrar que é impossível viver um tempo passado duas vezes, não tem como voltar, mesmo que no nosso mais intimo possamos desejar isso com imensa vontade.
Mesmo que com menos intensidade, mas afirmo que ainda assim, Peggy Sue se equipara em alguns outros sentidos com as duas outras obras citadas, o diretor usa de um tom artístico para conceber cenas tocantes, seja com uma trilha sonora instrumental sensível ou com belos diálogos citando escritores e poetas famosos como Hemingway (a qual o diretor parece não ter o menor apreço) e Yates. O filme ainda carrega certas curiosidades, como trazer Sofia Coppola ainda bem criança como a irmãzinha de Peggy e o ator Jim Carrey em inicio de carreira fazendo um personagem que o caracterizaria: o eterno sujeito cheio de caras e bocas. Alguns podem discordar, dizendo que não passa de pura pretensão do diretor, mas Peggy Sue, Seu Passado a Espera deve e merece ser destacada com uma das importantes realizações da carreira cheia de altos desse sublime artista.
Nova adaptação para o romance da escritora inglesa Charlotte Bröne, Jane Eyre é a quinta versão para esse aclamado texto dessa romancista. Antes de tudo, devo dizer que das realizações anteriores não assisti nenhuma, mas parece ser uma história que fascina desde os idos do cinema, porque até o lendário Orson Welles participou da produção de 1943. Mesmo na falta de um comparativo, não me furto a dizer que esse filme dirigido pelo novato diretor americano Cary Fukunaga é uma das boas coisas de 2011, mas talvez pela falta de divulgação ou saturação do mercado em relação a filmes de época tenham privado essa obra de uma sorte melhor no cinema, já que a abertura americana foi bem discreta e provavelmente deve pintar no Brasil apenas para home-video.
Logo no começo do filme, vemos Jane Eyre (Mia Wasikowska) ser encontrada quase morta por um Pastor (Jamie Bell), que instantaneamente recolhe a moça para cuidados e parece sentir uma atração por ela, mesmo que não explicitada, afinal ele é um homem de Deus, mas em certo momento não deixa de mostrar seu real interesse por Jane. Quando ela volta à realidade, suas lembranças vão surgindo mostrando os motivos que a levaram aquela situação traumática, desde sua infância órfã em um internato para meninas, que lhe talhou como uma pessoa taciturna que inibe seus sentimentos, mesmo parecendo com vontade de liberá-los furiosamente, mas o condicionamento violento pelo qual passou a comanda quase que de maneira involuntária; até o momento em que começa a trabalhar como preceptora de uma menina na casa de um nobre conhecido como Rochester (Michael Fassbender). Na casa do homem, Jane se descobre como mulher, que ainda é dotada de amor e que pode fazer alguém feliz e esse alguém é o seu patrão, que no começo despreza a moça, mas logo se mostra que é recíproco no amor em relação à Jane, mas um fato misterioso pode atrapalhar toda a felicidade do casal. Então, Jane se vê no impasse entre um casamento seguro ou uma relação instável com o amor de sua vida.
Um dos pontos mais competentes de Jane Eyre é trazer um retrato plausível da época em que se passa, aonde mesmo os personagens tendo riquezas, tudo parece um tanto decadente e não somos abstraídos pela luxúria ou libido de outras produções parecidas: aqui tudo parece meio frio e duro. Os protagonistas são cheios de reminiscências, o que rende bons e românticos diálogos e que inevitavelmente também surgem como duelos, se enquadrando muito bem na proposta do filme de ser belo e ao mesmo tempo melancólico. A criticada Wasikowska entrega uma Jane Eyre impressionante, com seus silêncios cortantes e olhares esclarecedores, afundada em pensamentos que nem ela mesma consegue entender. Fassbender também não fica atrás e em uma atuação imponente prova porque é um dos melhores atores em atividade. Não posso deixar de citar a fotografia que é outro destaque do longa, trazendo enquadramentos que lembram pinturas naturalistas e dão um charme todo especial a essa excelente obra que não merece ficar relegada ao esquecimento. Assistam porque vale muito a pena.
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