Desde os idos da cinematografia, o tema da vida no circo foi visitado diversas vezes, seja no cinema mudo de Chaplin ou na beleza melancólica de Fellini. Produções explicitamente belas, mas provavelmente nenhuma delas foi tão crua e chocante quanto esse Monstros de 1932. A curiosidade por assistir essa pérola vem desde a apreciação de Os Sonhadores de Bertollucci, já que a obra do italiano é repleta de cenas que fazem referências a obras clássicas do cinema e essa realização do prolixo diretor Ted Browning é uma das homenageadas em uma seqüência importante do filme.
A trama toda do filme se desenrola nos bastidores de um renomado circo que investe na apresentação de seres humanos bizarros como as principais atrações. Um sujeito que só tem o corpo da cintura para cima ou um outro que só tem o tronco e a cabeça ou as irmãs siamesas e ainda outras figuras que de tão exóticas parecem criações de CG ou mesmo montagem , só que na verdade a trupe de aberrações são impressionantemente reais, alguns até conhecidos na época, o que acaba trazendo ao filme um clima bem peculiar, seja de uma melancolia cômica ou mesmo remetendo em alguns momentos a um cinema de terror. A historia principal é sobre uma bela trapezista que seduz um simpático anão de olho na fortuna que o mesmo parece deter, mas quando as aberrações percebem que a bela mulher na verdade não possui sentimentos pelo pequenino e ainda o envenena com a intenção de matá-lo para herdar seu dinheiro, eles resolvem desferir uma vingança contra a moça e seu amante, o musculoso levantador de peso.
Claro que o olhar em cima dos “monstros” pode criar certo asco em relação a eles, mas como o diretor vai delineando a historia, com sensibilidade e destreza, ele mostra que mesmo tendo deformações físicas terríveis, eles possuem os mesmos sentimentos que humanos considerados “normais” e que mesmo os considerados “normais” podem ser tão “monstros” quanto às aberrações. Há uma inversão de valores bem realizada em um roteiro que mesmo sendo exibido em pouco mais de uma hora consegue ser suficientemente competente e ainda apresenta um epílogo que hoje pode parecer até engraçado, mas que deve ter sido bem chocante a época de seu lançamento. A cena citada em Os Sonhadores em que os freaks saúdam o casamento do anão e a trapezista entoando “One of Us” (um de nós) é marcante mesmo, um dos melhores momentos dessa lendária obra.
5 comentários:
É um ótimo filme, inclusive já escrevi sobre ele no blog.
Como você bem citou, a cena do casamento é marcante.
É um tipo de filme que nos dias de hoje, com o politicamente correto a todo vapor, nunca sairia do papel.
Abraço
Filmaço. E único em tudo! Tem um da fase muda do Browning que é imperdível: O MONSTRO DO CIRCO. A trama é aterradora e melodramática. Se não tiver visto ainda, recomendo.
Nunca assisti a nenhum filme do Ted Browning. Parece ser interessante.
Um clássico absoluto. Tb ja fiz um post. Depois de seu texto me deu aquela vontade de assistir.
Browning era um ótimo artesão do cinema do horror!
Abs.
Hugo, acho q teria dificuldades para sair do papel mesmo. É um otimo filme mesmo;
Ailton, dica anotada, ainda não vi esse, mas vou ter q ver;
Kamila, é um filme mais do q interessante;
Rodrigo, vou lá dar uma olhada no seu post, com certeza é coisa boa
Abs a Tds!
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