Produzido na Estônia, um país sem muita tradição cinematográfica, A Classe , que chegou a ser cogitado para concorrer na premiação do Oscar ...

282 - A classe (Klass/Ilmar Raag/2007)

Produzido na Estônia, um país sem muita tradição cinematográfica, A Classe, que chegou a ser cogitado para concorrer na premiação do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008 é uma contundente abordagem do universo adolescente e estudantil baseado em um fato real. Em tempos de bullying e burnout, a obra dirigida pelo diretor local Ilmar Raag é daqueles filmes para se assistir com “sangue nos olhos”, um soco no estômago mesmo, como se o próprio filme quisesse fazer sentir a violência exibida ao expectador.

Inicialmente, torna-se inevitável a comparação com Elefante de Gus Van Sant, mas diferente da forma contemplativa da tragédia de Columbine amostrada por Van Sant, A Classe é um filme com uma linguagem narrativa muito mais ágil, fazendo o expectador muitas vezes se ajeitar na poltrona para ver o que virá a seguir e o que vem é dolorido, tenso, fazendo a boca secar e a pulsação aumentar. Porque o que vemos é uma seqüência de violências que levam a mais violência, tanto mental quanto física e tudo impressionantemente realístico. O diretor Ilmar Raag concebe com propriedade, separando todos os lamentáveis atos em capítulos que representam muito bem esse tipo de violência praticada em escolas e que em algum momento da vida nos já vimos acontecer, mesmo que mais contida, mas não deixando de ser opressão.

Na trama, um dos alunos resolve defender um outro que sofre diariamente com humilhações e coação, sendo assim mal visto pelos antigos colegas e consequentemente acaba sendo vitima das mesmas atrocidades. Apesar de focar muito mais nas afrontas, a trama nos amostra também alguns elementos que ajudam a criar o clima insustentável que se forma, como o pai violento que não aceita que o filho seja surrado e obriga o mesmo de forma violenta que revide, quer dizer, o garoto já sofria bullying dentro de casa ou os professores que parecem querer resolver o problema, mas só se preocupam com o fato dentro de sala ou de maneira institucional, até porque a mentalidade está criada e infelizmente eles ficam de mãos atadas e parecem não ter muito que fazer.

O interessante é que o filme mostra como a situação toda é vista de maneira invertida, claro que mais violência não é a solução, mas assim como em Elefante a situação é tão sem saída que o desfecho parece ser inevitável e Raag concebe a seqüência final de uma maneira que há essa inversão mesmo, os vilões do filme são visto como vitimas, mas não deixam de ser também, tão vitimas quantos os pobres garotos (alias, todos são vitimas de uma sociedade que procura não se adaptar ao que é diferente). Alguns vão acusar A Classe de ser sensacionalista, mas vejo como um diálogo mais do que interessante sobre esse polêmico tema que já rendeu outras tragédias em paises com culturas diferentes, mas uniformizados pela mesma ignorância. Um filme obrigatório, que deveria ser exibido em praça publica e não ficar relegado a cinéfilos. 


10 comentários:

Alan Raspante disse...

nossa, filme interessante. deve ser uma boa experiência vê-lo, não gosto tanto de elefante pela forma como trata o tema, muito crua. fiquei curioso com este, não conhecia.

[]s

Anônimo disse...

Antes de tudo, Parabéns Celo! Teu blog cada dia mais esbanjando conteúdo de qualidade, não só na escolha dos filmes mas como também nas dissertações e análises em si. Gostei muito desse texto em particular e me aguçou a vontade de assistir esse filme. Eu até que gostei na época do Elefante do Gus Van Sant, mas achei que ficou devendo algo. Sei lá de repente só impressão minha, teria que ve-lo novamente. Mas me interessou bastante esse A Classe gosto de coisas com a temática de violência, mas ela tem que ter sentido, ser justificável. Pelo enredo parece ter fundamento. Vou procurar assisti-lo. Um baita abraço Celo! Continue nos visitando.

http://thecinefileblog.blogspot.com/

Doloroso filme que mostra um fato sempre atual - ao meu ver, ele é mais intenso que "Elephant". Até porque aqui o bullying tem forma e é tratato minuciosamente pelo diretor que roteiriza. Um belo filme cruel, visceral mesmo. E concordo contigo, esse filme deve ser de conhecimento de todo mundo. Um absurdo poucos conhecerem, deveria ter levado até o Oscar. Que bom que gostou! abs

Elson disse...

Vou atrás desse filme na rede, como eu tô finalizando a faculdade de Geografia, é imperativo assistir filmes com essa temática, obrigado pela dica!

Gabriel Neves disse...

Parece ser ótimo, e eu tenho que ver o que é que eu estou perdendo. Vou procurar tanto pela temática quanto pelo seu texto ótimo, que me deixou instigado. Abraços!

Maxwell Soares disse...

Eu penso que todo aluno, Celo, que algum dia estudou em escola pública já deve ter presenciado alguma coisa parecida. Não que em escolas privada não existam. Talvez até pior. Caso de garotos de classe média alta que estupra menininhas e fica por isso mesmo. A intolerância e falta de compromisso com a educação é perene em nosso dias. No mais, um excelente filme. Outro que entra para minha lista... até...

Unknown disse...

Alan, reforço q vale muito uma olhada. Gosto de Elefante pela maneira quase documental, mas esse é mais incisivo;

Laercio, vlw pelos elogios, sou fã da tua escrita e do teu blog. A nossa interação sempre vai existir. Esse filme vale muito uma olhada, acho q vc vai gostar, pelas nossas conversas o tema bate com o q te agrada e o trato é bem delineado;

Cris, obrigado por essa indicação, um dos filmes q mais me fez interagir esse ano. Fiquei com a sensação de sufoco em muitas cenas. Até agora ainda estou refletindo sobre alguns momentos, nessa situação, talvez a premiação do Oscar divulgasse mais esse filme, q só tomei conhecimento agora;

Elson, assista sim, para vc q deve ser professor, é um ponto de vista mais do que importante, mas apesar de parecer uma obra alerta, tb tem muitas qualidades cinematograficas;

Gabriel, vlw cara! Q bom q gostou do texto, apareça sempre, a presença de tds vcs antenados com cinema é muito importante para mim e veja o filme!;

Maxwell, eu q moro no RJ e até pouco tempo frequentava Faculdade Particular, posso dizer q já vi atos semelhantes tanto na minha epoca escolar qt na universitaria, lamentavel, mas é um modo de pensar q muitas vezes funciona no automatico. Dificil pensar em uma solução...

Kamila disse...

Nunca tinha ouvido falar desse filme antes. Ele parece ser interessantíssimo!!

Unknown disse...

Kamila, até então tb não tinha ouvido falar, mas é bem interessante mesmo.

Caroline Sant disse...

Onde posso encontrar para assitir onlinne ou para baixar?
Não achei em lugar nenhum e quero muito assitir!