Um sujeito negro em meio a uma cidade racista na América dos anos 60 já seria um motivo interessante para se contar uma historia. Se esse sujeito for representado por um ator como Sidney Poitier ganha outras proporções, pois Poitier tem muito talento e nesse premiado No Calor da Noite, dirigido por Norman Jewison, ele destila todo seu repertorio, compondo um personagem forte, transgressor e icônico.
O desenrolar da trama começa com o assassinato de um empresário influente na pequena cidade de Esparta, no sul dos EUA. Logo, o negro Virgil Tibbs (Sidney Poitier), de passagem pela cidadezinha, é levado como suspeito para interrogatório. Em algum tempo percebe-se que ele não é culpado e ainda se revela como um policial experiente e investigador de homicídios da cidade grande, deixando todos perplexos em Esparta. Como um negro poderia calcar um posto tão importante dentro da sociedade americana? Já que por muito tempo eles serviam apenas para trabalhar em plantações e servir a senhores, sendo na sua maioria analfabetos e de pouco cultura, isso na visão sulista racista é claro.
Então, uma das nuances de No Calor da Noite é o conflito entre a pequena cidade e o policial negro que se vê obrigado a solucionar o caso do assassinato, mesmo que para isso ele tenha que arriscar a própria vida, que parece ter muito pouco valor em Esparta. Em meio à avalanche de revelações e durante a dificultada investigação, Virgil desenvolve uma improvável parceria com o delegado durão representado por Rod Steiger, que ainda ganhou o Oscar por essa atuação visceral. O antagonismo entre os dois personagens é um dos pontos forte do filme, mas também é muito bonito ver florescer o respeito e amizade das duas partes, que de uma maneira ou de outra acabam mostrando facetas do ódio racial.
No total, No Calor da Noite foi premiado com cinco estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme, mas dentre elas, nenhuma foi para Sidney Poitier. Sinceramente, uma grande injustiça, contradizendo a própria academia, que parecia ousada em premiar um filme que concorria com outros mais “acadêmicos” como A Primeira Noite de um Homem e Bonnie Clyde. Engraçado que o outro concorrente Adivinhe Quem vem para Jantar? também tinha como um dos protagonistas Poitier, que ainda havia ganho o prêmio quatro anos antes por Uma Voz nas Sombras do diretor Ralph Nelson (seria Poitier o melhor ator de sua época?).