Mini – serie em cinco capítulos, Mildred Pierce, na verdade esta mais para um filme de pouco mais de cinco horas. A produção do canal HBO tem todos os episódios dirigidos por Todd Haynes, de filmes como Longe do Paraíso e Não Estou Lá, o que até evidencia esse suposto longo filme, que caiu bem para TV, até por ter oportunidade de desenvolver bem a trama e acompanhar com detalhes a vida da personagem central.
A trama narra a vida de Mildred Pierce (Kate Winslet) a partir do seu divorcio do marido Bert (Brian F. O´Byrne), primeiro mostrando as dificuldades de ser mãe solteira de duas meninas, que são potencializadas por Mildred viver na década de 30, durante a Grande Depressão americana. Depois vamos acompanhando como a inicialmente dona de casa se vira para cuidar das filhas de maneira decente. Um dos aspectos interessantes, é que mesmo Mildred tendo que cortar um dobrado, ela não deixa de ter o seu orgulho, muitas vezes ferido e também não se torna um daqueles personagens edificantes, o que acaba a trazendo para muito perto da nossa realidade. Os sentimentos representados em Mildred Pierce são bem palpáveis, muito perto de coisas que passamos, seja na nossa vida pessoal ou profissional. Todas as alegrias e tristezas (que não são poucas) de Mildred retratam muito bem essa humanização da historia, que não apela para o piegas, o que poderia ate ser uma saída comum para as soluções.
Mildred Pierce tem momentos emocionantes e melancólicos, com destaque para os protagonizados por Mildred e sua esnobe filha Veda Pierce (Morgan Turner/Evan Rachel Wood). A moça, que em certo momento é chamada de serpente por um de seus tutores, parece fazer de tudo para desmoralizar ou diminuir a mãe, mas mesmo assim ela não deixa de mimar e exaltar a filha, a quem ama muito. Interessante também, como as seqüências que retratam a ascensão financeira de Mildred são gratificantes, mas que em certo momento também funcionam como um castigo para a personagem. Um outro destaque são as ousadas cenas de sexo realizadas por Kate Winslet, a atriz se entrega de uma maneira poucas vezes vista para uma artista famosa. As seqüências exalam sensualidade, o que é um ponto positivo também e comprova que Mildred quer ser feliz como qualquer um.
Fato que o texto de Mildred Pierce é excelente e já rendeu uma adaptação cinematográfica intitulada Alma em Suplicio que premiou a atriz Joan Crawford com um Oscar no longínquo ano de 1945, mas essa nova adaptação feita pelas mãos de um talentoso e hábil diretor como Todd Haynes consegue ser muito bem desenvolvida, com uma reconstituição de época brilhante, evidenciada com uma fotografia de qualidade e uma trilha sonora impecável e também cresce muito com a presença de um elenco notável. Encabeçado pela excelente atriz, Kate Winslet, que faz um trabalho maravilhoso, a obra ainda dispõe de coadjuvantes como a premiada Melissa Leo, a jovem e versátil Evan Rachel Wood e outros tarimbados como Guy Pearce e Hope Davis. O trabalho do elenco é algo a ser sublinhado nessa produção. O formato de mini – serie de Mildred Pierce atesta também que muitas vezes certas obras precisam de um tratamento mais extenso e é nesse ponto que a TV, feita com seriedade como nas produções da HBO, pode fazer a diferença.